terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Termo de Estudos em L'Abri: Janeiro de 2011

Queridos amigos de L'Abri,

Convidamos a todos para o Termo de Verão de 2011!

O "termo" é um período mais longo de estudos, e é a atividade principal de L'Abri. O próximo termo terá duração de 14 dias, começando no dia 13/01 e terminando em 27/01.

Você pode chegar e partir em qualquer dia, dentro desse período, e ficar quantos dias quiser.
Durante o termo há uma programação diária de estudo e trabalho. No final de semana de 14 a 16/01 teremos um retiro sobre Esgotamento Espiritual, com uma programação especial. Veja a programação completa no arquivo em anexo.

Programação e Inscrição: CLIQUE AQUI PARA FAZER O DOWNLOAD DA FICHA DE INSCRIÇÃO

Como o L'Abri Funciona? CLIQUE AQUI PARA MAIS DETALHES

Informações:
(31) 9225-1923 | Vanessa
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Guilherme de Carvalho: UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE ...

Guilherme de Carvalho: UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE ...: "A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site des..."

UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

Como ex-aluno do Mackenzie, dou meu testemunho em favor da idoneidade dessa instituição. Viva o Mackenzie! Abaixo toda tirania da consciência!



A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 [LINK http://www.ipb.org.br/noticias/noticia_inteligente.php3?id=808] e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.

Para ampla divulgação.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pensar...: A Salvação pertence ao Senhor

Se você quer entender o evangelho de forma simples e clara, leia o texto linkado abaixo:

Pensar...: A Salvação pertence ao Senhor: "p { margin-bottom: 0.21cm; }a:link { } Por Igor Miguel Escrevi um texto teológico sobre a revolução que aconteceu em minha mente..."

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

L'Abri Brasil: V Ciclo de Palestras L'Abri Brasil

L'Abri Brasil: V Ciclo de Palestras L'Abri Brasil: "Caros amigos de L’Abri, Vem aí o V Ciclo de Palestras L’Abri-AKET com o tema: O Verdadeiro Jesus Cristo Quem foi Jesus Cristo? Quem não fa..."

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Pensar...: Retratação Pública

Caros leitores,

como a retratação abaixo diz respeito à Igreja Esperança, da qual sou pastor, decidi reproduzi-la; e comentá-la também, mas não agora. Em tempo oportuno farei minhas observações.

Pensar...: Retratação Pública: "A quem possa interessar, abaixo disponibilizo minha retratação pública ao Corpo de Cristo - a Igreja. É uma retratação teológica quanto a a..."

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mês da Reforma Protestante na Igreja Esperança!


IGREJA ESPERANÇA – MÊS DA REFORMA PROTESTANTE

Os Cinco ‘Solas’ do Cristianismo

O mundo contemporâneo trouxe uma crise para o cristianismo. Muitas pessoas deixam as igrejas cristãs, cansados ou com medo, e optam por uma vida de secularismo, ou por uma espiritualidade sem vínculos religiosos. Muitos dizem que a igreja complica as coisas.

Mas essa crise também parece ser uma oportunidade. Pois muitas pessoas estão redescobrindo o poder e a simplicidade do evangelho cristão, como aconteceu há mais de quinhentos anos na Reforma Protestante.

Sola Gratia, Sola Fide, Solo Christus, Sola Scriptura, Soli Deo Gloria: os cinco ‘somentes’ do Cristianismo. É tempo de redescobrir a simplicidade da Fé Cristã; é tempo de vivenciar o poder transformador do Evangelho.


PROGRAMA

Aos Domingos, 18h, na Igreja Esperança (Entrada Franca)

Av. Pedro II, 2744 - Caiçara - Belo Horizonte
Informações: 2532-8962

03/10 – Sola Gratia (Somente a Graça): Igor Miguel

10/10 – Sola Fide (Somente a Fé): Guilherme de Carvalho

17/10 – Solo Christus (Somente Cristo): Rodolfo Amorim

24/10 – Sola Scriptura (Somente a Escritura): Igor Miguel

31/10 – Soli Deo Gloriae (Somente a Deus a Glória): Guilherme de Carvalho

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Retiro L'Abri Setembro: APOLOGÉTICA CRISTÃ!

Olá amigos de L'Abri,
Convidamos a todos para o Retiro de Setembro de 2010, que será sobre: Apologética Cristã, e ocorrerá nos dias 24, 25 e 26/09/2010 em um local belo e aconchegante, o Sítio Estação Macacos, a apenas 15 min do BH Shopping.



O Apóstolo Pedro, em sua carta às igrejas de Cristo dispersas no mundo helênico, exorta os cristãos a estarem sempre preparados para apresentar a razão (apologia) de sua esperança. Este é o mandato apologético dado a todos os cristãos em todos os tempos. Porém, sabemos que os desafios à fé cristã se articulam de formas distintas e renovadas, influenciados pelo espírito das épocas e por contextos histórico-culturais específicos. E isto certamente afetará a qualidade de nossa apologia. As respostas de outrora não são entendidas ou relevantes ao espírito do hoje, com seus distintos padrões de pensamento e questões. Como exemplo contemporâneo, presenciamos a indiferença no ethos pós-moderno à qualquer narrativa que alegue o status de verdade, bem como o re-surgimento do ateísmo em figuras como Dawkins e Hutchins. Ambos exemplos são abertamente contrários aos pilares da esperança cristã, requerendo uma apologia que seja simultaneamente sólida e contextualizada.

Como podemos articular uma relação sadia da fé cristã com os padrões de pensamento e desafios culturais da presente geração? Seria a fé cristã racionalmente defensável? Quais as bases de uma apologética cristã fiel aos princípios das Escrituras e relevante para os dias de hoje? Iremos explorar juntos, neste tempo de retiro e reflexão, estas e outras questões relevantes. Você é nosso convidado.

Programação e Inscrição: Envie um email para labri.brasil@gmail.com.

Informações:
(31) 9225-1923 | Vanessa
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(31) 8449-2163 | Rodolfo

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Há um Futuro para o Movimento Evangélico?


Foi muito comentada a reportagem da revista Época sobre os "Novos Evangélicos"; celebrada por uns, criticada e até mesmo ridicularizada por outros (e não sem razão, diga-se). Agora que o susto passou e o "corpo" foi recolhido, acho que posso arriscar uns palpites sobre a "causa mortis".

Mais de uma vez ouviu-se o óbvio: que o mago da reportagem jogou numa cartola só todas as alternativas às igrejas mais tradicionais (históricas e pentecostais) e às neopentecostais, e tentou tirar dali o coelho da "Nova Reforma". É claro, foi um truque. Deu pra ver que o coelho era de plástico. Sem contar com o fundo falso da cartola da “Época”.

Mas não é que nada de novo esteja acontecendo. Há coisas novas acontecendo sim - especialmente as coisas menos conhecidas ou "anônimas" que aparecem na reportagem, como a Comunidade 242 e a banda de rock Palavrantiga - e há coisas acontecendo que nem aparecem na reportagem. O que não é novo é o que alguém ironizou como os "novos reclamantes", apresentados na reportagem como os "novos reformadores". Tudo estaria errado: parte dos "novos evangélicos" são na verdade os velhos evangélicos, alguns mais tradicionais, outros mais inovadores, reclamando juntos da grande crise evangélica. E os "evangélicos" da reportagem (neopentecostais, principalmente) são essa forma de evangelicismo defectiva e doente que conhecemos; como se fosse uma laranjeira grande, viçosa, folhuda, mas que dá laranjas esquisitas, pequenininhas e azedas. Esse tipo de árvore confunde a gente.

E muita gente atacou a reportagem: "O que é isso, Novos Evangélicos? Isso é a Globo, dividindo o povo de Deus!". Vários "reclamantes", no entanto, botaram lenha na fogueira: "É, a Época misturou um pouco as coisas, mas precisamos mesmo nos separar dessa laranjeira estéril". Sim, não nos esqueçamos dos “reclamantes dos reclamantes”, vociferando contra ambos os grupos. A pergunta de quem observa é a mesma: "Há futuro para o movimento evangélico"?

Sim
Isso é o que dizem apóstolos, bispos e pastores neopentecostais, diversos ministros de megaigrejas baseadas no paradigma moderno de religião, e a massa de crentes comprometidos com a "cultura gospel": está tudo indo muito bem, a vitória será completa, o povo de Deus vai dominar este país e ai de quem se opuser a isso. A rede Globo e os crentes que desafiam os novos apóstolos cairão sob o juízo de Deus e serão amaldiçoados. (Confesso que gosto da parte sobre a Globo).

Não
Assim dizem alguns dos "reclamantes", assim como os "reclamantes dos reclamantes": o movimento evangélico está falido, não há saída, não há esperança. Vamos esperar por algo novo. Não sabemos o que será, mas sabemos que não é o que conhecemos. Precisamos nos livrar da ortodoxia endurecida dos evangélicos mais fundamentalistas (especialmente dos calvinistas do Mackenzie e dos assembleianos doutrinários - isso é o que se diz por aí), assim como do neopentecostalismo, e partir para outra: para um cristianismo honesto, voltado para a cultura, não-dogmático, dialógico etc. E aqui às vezes se mistura de tudo: igrejas tribais e multitribais, emergentes urbanos, movimentos anti-institucionais como as igrejas nas casas, e muita gente do movimento de missão integral.

Talvez
Certo, pode parecer fácil indicar uma terceira via depois das duas caricaturas horrorosas que eu pintei logo acima, mas na verdade é bem difícil. Todo mundo identifica facilmente essas caricaturas. Quanto ao meu palpite, tenho sérias dúvidas. Sou o único que conheço pensando assim (talvez isso não seja um problema; não conheço muita gente mesmo). Enfim, as caricaturas são necessárias às vezes. Perdoem-me. Quero apresentar meu palpite com traços grossos e de forma impressionista.

E aí vai: se houver um futuro para o movimento evangélico, ele estará no Evangelho.

Não quero ser bonitinho, nem santarrão, nem piegas - estou falando sério. Ouço notícias sobre pastores se tornando muçulmanos depois de anos de trabalho; assisto ao evangelho da prosperidade na televisão e a pregadores de jatinho passando como "Evangelho" coisas que desconheço completamente; testemunho líderes e igrejas inteiras ensinando salvação por meio de esforços religiosos; ouço CD's de adoração totalmente baseados na descrição de vivências psicológicas e de promessas de santidade, mas vazios do anúncio da verdade sobre Deus e sobre a Graça; leio trabalhos de teólogos latinoamericanos da missão integral propondo sínteses entre pensamento social humanista e o Evangelho; ouço e leio pastores evangélicos dizendo que não são mais evangélicos e pregando sínteses de libertarianismo humanista e cristianismo; ouço podcasts de pessoas que realmente - realmente - acreditam que Brian McLaren apresenta um caminho viável para o cristianismo na pósmodernidade.

Sim, estou me parecendo com um dos "reclamantes". Talvez eu seja um deles, não sei. Mas sei de uma coisa: a igreja evangélica já não tem muita certeza do que seja o Evangelho.

Muita gente, quando me ouve dizer essas coisas, reage efusivamente: "É isso mesmo, vamos criticar essa malandragem! O problema dos crentes contemporâneos é que eles não tem caráter! E esses pastores, então, manipulando a fé das pessoas? Precisamos denunciá-los na internet. Precisamos de arrependimento, de ensinar o custo do discipulado!".

Com o perdão da expressão, arrisco-me a dizer que o problema é "mais embaixo". Não se trata meramente de uma crise moral, ou de uma crise de caráter, mas de uma crise de fundamentos. O mero fato de alguns cristãos acreditarem que nossa maior necessidade seja uma reforma das instituições, ou uma reforma moral em direção a um comportamento mais coerente, ou uma atitude intelectual crítica e revolucionária, revela que eles fazem parte do problema. Eles nem começaram a entender o que está acontecendo.

O que quero dizer com "Evangelho", então? Ora, refiro-me ao que se entende classicamente como o Evangelho: o anúncio dos atos e da presença salvadora de Deus. O que está acontecendo com a igreja evangélica no Brasil é que o seu conteúdo está se perdendo. As pessoas não sabem quem é Deus; nem porque ele é trino; nem sobre a condição depravada do homem diante de Deus; nem sobre o alcance cósmico da obra de Cristo; nem o que significa viver sob a Graça; nem o que significa ter esperança. Não é que não saibam essas doutrinas, meramente (a verdade é que não sabem mesmo), mas que não sabem as realidades descritas por essas doutrinas. Tenho me encontrado com centenas de cristãos, desde o tempo em que fui professor de teologia, que simplesmente não sabem o que é o Evangelho. O seu relacionamento com Deus é baseado em seus sentimentos, em suas especulações, ou em regras religiosas, ou em esforços de santificação. Eu até já parei de evangelizar católicos. Agora evangelizo crentes.

Acontece que os evangélicos historicamente têm sustentado que não é a nossa boa vontade moral, nem a nossa coerência, nem são as nossas instituições os meios que "canalizam" o poder salvador de Deus, mas o Evangelho, como diz o apóstolo Paulo em Romanos. E por isso eles sempre cultivaram a expectativa de que a solução é ouvir e comunicar claramente o evangelho da Graça e da glória de Deus, ao invés de se fiar em técnicas, novos modelos, ou em inovações teológicas. Essa foi a solução no tempo de Paulo, no tempo de Agostinho, no tempo dos reformadores, no tempo de Wesley, no tempo de Kuyper, no tempo de Schaeffer. Por que agora seria diferente?

Não é que um evangélico não possa aceitar ou promover novidades úteis e enriquecedoras, mas que ser evangélico significa crer e reconhecer a prioridade da ação divina sobre a ação humana, da iniciativa divina sobre a boa vontade humana, da sabedoria divina sobre a engenhosidade humana. Para um evangélico genuíno, a salvação, a igreja e a missão começam com o grandioso fato de que Deus dirige a história, Deus se fez carne e está presente no Espírito Santo; somos servos desse fato que anunciamos como uma boa notícia, e é por isso que temos igrejas, missões, livros, CD's e websites. E é por isso que não vamos nos desesperar diante do fracasso do "movimento evangélico": não estamos aqui por causa dele, mas por causa do Evangelho, e é isso o que nos faz evangélicos.

Infelizmente, no entanto, as opções são poucas. De um lado, um imenso movimento religioso se desprega de suas raízes e perde a referência ao Evangelho. De outro evangélicos e ex-evangélicos em desespero procuram soluções não-evangélicas ou desistem de lutar pela herança evangélica.

Talvez haja um futuro para o movimento; talvez. Mas apenas se ele se simplificar e se alimentar do que tem de mais essencial, e que é precisamente a sua contribuição mais indispensável ao movimento cristão mundial: uma compreensão clara e prática do Evangelho. Para isso, no entanto, será necessário abandonar a arrogância à direita e o desespero à esquerda.

Alguns fatos intrigantes
Para dar mais "carne" ao meu argumento, creio ser importante introduzir o leitor a alguns fatos intrigantes. Em primeiro lugar - e isso não é novidade - a crise do movimento evangélico não é só no Brasil. Seus sinais estão nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Holanda, na África do Sul e em outros países latinoamericanos. Os movimentos anti-institucionais, o pós-evangelicismo e a "igreja emergente" em particular vêm pipocando já há algum tempo, como um testemunho da erosão no evangelicismo.

O maior problema desses movimentos é que sua marca unificadora não se encontra no conteúdo, propriamente, mas na forma e na resposta ao momento histórico. Em termos de conteúdo, oferecem um espectro de opções que vão de reformados a liberais, de evangélicos a pós-evangélicos; mas todos concordam, de um modo ou de outro, que a posmodernidade exige uma transformação da igreja e da missão. Nesse sentido, é problemático falar em "Nova Reforma". O que há é uma fragmentação sem precedentes, espelhando o esfacelamento da mente moderna.

Não por acaso, dois movimentos opostos e muitíssimo significativos se desenrolam simultaneamente aos movimentos "emergentes". O primeiro é o aumento das conversões de evangélicos para o catolicismo. Isso está acontecendo em diversos lugares, mas tornou-se muito visível recentemente nos Estados Unidos. Muita gente sabe que Rich Mullins, um famoso e genial cantor e compositor evangélico americano, morreu pouco antes de oficializar sua passagem para o catolicismo; mas pouca gente sabe que Francis Beckwith, famoso filósofo cristão americano, demitiu-se da Presidência da Evangelical Theological Society em 2007 anunciando publicamente seu retorno à Igreja Católica Romana. O movimento hoje é tão intenso que foi comentado no website "Religion Dispatches" como uma tendência emergente no mundo evangélico.

O outro movimento é a ressurgência do calvinismo em todo o mundo - para o desespero de arminianos, de católicos e de emergentes mais "conversacionais". A revista Time publicou em março de 2009 uma lista das "10 Ideias que Estão Mudando o Mundo Agora", e lá estava, entre elas, o "Novo Calvinismo" (veja a tradução em português do artigo aqui). Além do mais antigo e muito mais intramundano neocalvinismo holandês, há agora os "novos calvinistas", um movimento fortemente teológico e evangelístico que enfatiza de forma explícita a visão reformada da soberania de Deus, do pecado e da Graça, por meio de abordagens evangelísticas e eclesiológicas inovadoras, do que o exemplo mais popular é Mark Driscoll. E isso não é só nos Estados Unidos: no Brasil é fácil encontrar muitos desses calvinistas que nem são presbiterianos; há agora calvinistas batistas, assembleianos, carismáticos e sem denominação emergindo por todos os lados. Exemplo óbvio é o público reunido pela Conferência Fiel no Brasil e em Portugal.

Uma interpretação
Vou me arriscar a interpretar esses fatos. O que ocorre é que o movimento evangélico está fracassando e ao mesmo tempo não está fracassando em manter sua identidade mais fundamental: o anúncio claro e consistente do Evangelho. É a perda do evangelho o que se manifesta no movimento da prosperidade; é a confusão sobre o evangelho que se mostra na diversidade teológica irreconciliável do movimento emergente; é a dúvida sobre o evangelho o que torna plausível, para muitos evangélicos, o retorno à igreja católica; e é exatamente a profunda consciência desse tesouro o que motiva os novos calvinistas (entre outros evangélicos) a tentarem uma restauração do espírito do evangelicismo.

Um exemplo muito interessante dessa última iniciativa, na América do Norte, é "The Gospel Coalition" ("A Coalizão do Evangelho"), uma associação de indivíduos e igrejas comprometidos com a centralidade e a pureza do Evangelho, em oposição franca à recatolicização e ao pós-evangelicismo de alguns emergentes. Entre os participantes encontram-se nomes conhecidos como John Piper, Tim Keller, Don Carson, Mark Dever, Collin Hansen e, é claro, Mark Driscoll.

E não é por acaso que vários integrantes desse movimento sejam calvinistas assumidos. Todos são bem claros em afirmar a herança reformada, mas não por estarem submetidos a certas exigências denominacionais, ou por serem presbiterianos, como o leitor desavisado poderia pensar. Pelo contrário, boa parte desses calvinistas nem mesmo está encaixada em uma denominação reformada. O seu testemunho tem sido muitíssimo prático: que as verdades do senhorio de Cristo sobre todas as coisas, da providência divina, da depravação total e da soberana da Graça têm produzido frutos de arrependimento, de gratidão e de mudança de vida. Há um consistente entusiasmo com a redescoberta do amor de Deus e da prioridade da iniciativa divina sobre a vontade humana. Não por acaso, como observou Collin Hansen num artigo recente, várias dessas novas igrejas, ao mesmo tempo reformadas e contemporâneas, estão florescendo em lugares extremamente secularizados aos quais os outros evangélicos não conseguem mais ministrar, como Seattle, Washington e Manhattan.

Nesse sentido, seria muito justo dizer que esses líderes e igrejas estão se tornando mais evangélicos. E isso precisa nos levar a uma séria reflexão. Nos Estados Unidos o movimento evangélico se desfaz com o evangelho da prosperidade, com o movimento emergente e com as conversões ao catolicismo, mas se refaz, por outro lado, com uma maior unidade em torno do Evangelho; mas será uma casualidade que esse Evangelho redescoberto seja exatamente a visão reformada do Evangelho? Creio que não.

E no Brasil?
Também não creio que isso seja só uma questão do contexto americano - falar nisso em pleno século 21 é besteira. Não apenas porque temos aqui todos os problemas que eles têm lá - evangelho da prosperidade, neopentecostalismo, movimentos emergentes, pós-evangelicalismo -, mas também porque já não faz mais sentido identificar contexto e nacionalidade ou contexto e localidade. Não na era do ciberespaço e da globalização.

Ao que parece, as enxurradas de valores, práticas e mentalidades modernas, e agora pósmodernas, estão castigando violentamente o movimento evangélico e lavando toda a terra solta que for possível. Sinto que a confusão neopentecostal, o retrocesso ao catolicismo e o cinismo emergente e/ou pós-evangélico sejam somente essa terra solta. Talvez até mesmo os que não veem esperança na fé evangélica sejam apenas mais terra solta. Ficará sob a enxurrada o solo firme de espíritos genuinamente evangélicos. Aqueles que desejam fundamentar a espiritualidade, a igreja e a missão na verdade de que Deus é o salvador, e que ele está presente, antes e independentemente de todos os nossos esforços, fracassos e sucessos. E tenho graves suspeitas de que tais espíritos serão, não por acaso, reformados em sua maioria.

Creio que há um futuro para o movimento evangélico, mas falo apenas por mim. Eu não sou evangélico porque o movimento evangélico deu certo. Sou evangélico por causa do Evangelho. E se realmente o leitor pensa que "voltar ao Evangelho" é uma solução pueril, seu problema não é com o movimento evangélico, e sim com o cristianismo. Pois a coisa mais cristã de ser evangélico é acreditar no que o Evangelho diz: que Deus está presente por causa de Cristo, e por isso há esperança.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Porque vou votar em Marina Silva


Aqui estamos todos, no encontro de fundação de A Rocha Brasil. Rodolfo e eu (menos redondo que hoje), ao lado de Marina Silva . A Marina está segurando o nosso livro, "Cosmovisão Cristã e Transformação" (demos uma cópia de presente).

Para quem não sabe, há uma afinidade histórica entre L'Abri e A Rocha. É que parte da inspiração de Peter Harris na fundação de A Rocha veio de seu contato com L'Abri.

Bem, não vou votar na Marina por causa dessa foto, obviamente. Também não vou explicar tudo tintin por tintin. Digamos apenas que, como seguidor do economista holandês Bob Goudzwaard, concordo que tanto o capitalismo quanto o socialismo de Estado tem um compromisso religioso com o progresso tecnocientífico e econômico, como a única via possível para um "Éden" secular. Dos candidatos atuais, só a Marina tem uma pista sobre o perigo do desenvolvimentismo e do mito do progresso.

E antes que alguém me acuse de "Esquerdista", quero deixar claro uma coisa: não creio que seja possível ser "vermelho" e "verde" ao mesmo tempo, de forma coerente. Os Estados socialistas foram os que mais destruíram o meio ambiente. E no Brasil, quem deu a mais recente mancada foi o PCdoB de Aldo Rebelo.

É uma pena que Marina ainda se considere de esquerda. Um dia ela verá que o socialismo jamais será honestamente conservacionista.

Sim, há mais coisas em jogo, mas é só por agora!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Retiro L'Abri em Agosto!

Olá amigos de L'Abri,

Convidamos a todos para o Retiro de Agosto de 2010, que será sobre: Espiritualidade & o Mundo Real - a natureza da experiência espiritual cristã e ocorrerá nos dias 27, 28 e 29/08/2010 (o convite enviado por email está com a data incorreta, desculpem!) em um novo e belo local, o Sítio Estação Macacos, a apenas 15 min do BH Shopping.

Após Nietzsche declarar no século XIX que "Deus estava morto", testemunharmos o surgimento e declínio das grandes utopias políticas modernas como o Nazismo e o Marxismo no século XX, presenciamos um retorno contemporâneo à busca pela transcendência, à vida interior e um anelo pela relação com o invisível e o sobrenatural.

Falar em espiritualidade, no início do século XXI, é estar por dentro e não fora dos temas contemporâneos. Mas uma espiritualidade que não se relacione com os altos e baixos da vida concreta do dia a dia não seria apenas um escape e alívio da realidade em lugar de uma resposta sólida à esta? Isto faz da busca de uma espiritualidade íntegra e integral no contexto da cultura contemporânea um desafio extremamente relevante e urgente.

Quais seriam os contornos da proposta cristã de espiritualidade? Como podemos integrar o espiritual com as demandas reais da vida contemporânea? O que caracterizaria o espiritual e o real segundo a revelação Cristã? Iremos explorar juntos, neste tempo de retiro e reflexão, estas e outras questões relevantes. Você é nosso convidado.

Informações:

(31) 9225-1923 | Vanessa
(31) 2535-8962
| Alessandra ou Guilherme
(31) 8449-2163 | Rodolfo

Para receber a ficha de inscrição, entre em contato através do email: labri.brasil@gmail.com
Siga o L'Abri no Twitter: @labribrasil

terça-feira, 13 de julho de 2010

Nesta Quarta: O Senhorio de Cristo sobre o todo da Vida (Encerramento IV Ciclo L'Abri)

Nesta quarta, dia 14 de julho, acontece a última palestra do IV Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, com o tema "O Senhorio de Cristo". Na palestra vamos refletir sobre a centralidade de Cristo e o que ela significa para o viver cristão.

A série "Cristianismo Essencial" aborda os temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; as virtudes teologais (fé, esperança e amor), a idéia de hospitalidade e o Senhorio de Cristo sobre o todo da vida.

O Preletor será Guilherme de Carvalho, obreiro do L'Abri e Pastor da Igreja Esperança.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares.


Próxima Quarta (14/07): O Senhorio de Cristo sobre o Todo da Vida


Datas e Horários:
As Palestras serão oferecidas durante os meses de junho e julho, sempre às quartas feiras às 20h.

Nesta Quarta em Novo Local:
Rua Aspásia, 46, apto 302 - Caiçara.

Informações:
Vanessa (31 - 9225-1923) ou Alessandra (31 - 84176211)
Ou por email: labri.brasil@gmail.com

FAVOR CONFIRMAR PRESENÇA POR TELEFONE OU EMAIL!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

De Volta para o Futuro

Ontem foi o dia em que Marty McFly chegou ao futuro.

Cadê os skates voadores? Os telões nas ruas com imagens 3D? As jaquetas que se moldam no corpo? As botas que se ajustam perfeitamente nos pés, etc? Estamos em 2010 e nada disso existe ainda, só a lembraça boa dos filmes...

Vejam a foto do painel do DeLorean:

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Elildo de Carvalho Jr.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Nesta Quarta: O Caminho do Amor (IV Ciclo L'Abri)

Nesta quarta, dia 07 de julho, acontece a penúltima palestra do IV Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, com o tema "O Caminho do Amor". A palestra conclui a nossa exposição das "virtudes cardeais" ou "teologais" - fé (fides), esperança (spes) e amor (caritas) - e como a vida cristã se organiza em torno delas.

A série "Cristianismo Essencial" aborda os temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; as virtudes teologais (fé, esperança e amor), a idéia de hospitalidade e o Senhorio de Cristo sobre o todo da vida.

O Preletor será Guilherme de Carvalho, obreiro do L'Abri e Pastor da Igreja Esperança.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Claudinha e do Gute, nossos amigos do ministério Gerar.

Próxima Quarta (07/07): O Amor

Datas e Horários:
As Palestras serão oferecidas durante os meses de junho e julho, sempre às quartas feiras às 20h.

Local:
Rua Laplace, 36 B. Santa Lúcia

Informações:
Vanessa (31 - 9225-1923) ou Alessandra (31 - 84176211)
Ou por email: labri.brasil@gmail.com

FAVOR CONFIRMAR PRESENÇA POR TELEFONE OU EMAIL!

Não Consigo Crer Em Jesus!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Leitura

"A leitura de todos os bons livros é igual a uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram seus autores, e até uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam apenas seus melhores pensamentos [...]"

René Descartes, Discurso do Método

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Visão Cristã do Estado, ou: a tarefa teológica da política cristã

“Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro e se estribam em cavalos; que confiam em carros, porque são muitos, e em cavaleiros, porque são mui fortes, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao SENHOR!
Pois os egípcios são homens e não deuses; os seus cavalos, carne e não espírito. Quando o SENHOR estender a mão, cairão por terra tanto o auxiliador como o ajudado, e ambos juntamente serão consumidos.”

Isaías 31.1,3

Há uma perspectiva cristã do Estado? Há quem pense que o cristianismo não tem nada que ver com Estado - nem com política; que a religião não tem nada a ver com política. Não no sentido de que a religião não se mescle com a política, pois isso sim, acontece sempre, mas no sentido de que a religião não deveria se misturar com a política nem se intrometer em coisas de Estado. Alguns mais radicais sustentam, inclusive, que a verdadeira política é incompatível com a religião.

As razões para isso variam; uns pensam que a política poderia macular a pureza da religião; outros entendem que a religião é irracional e corrompe a racionalidade da boa política. De um jeito ou de outro, os dois lados podem até chegar a uma espécie de cessar fogo pragmático: “cada um no seu quadrado”. Na igreja Deus é Jesus; na câmara, é o Estado.

Mas há quem realmente tome essa solução pragmática como princípio teológico/ideológico – que Jesus nos leva para o céu, e o Estado cuida de nós aqui na terra. Portanto o bom cristão deveria ver em um projeto de Estado secular a cura para as mazelas da sociedade.

Mas será isso possível? Que intenções têm o Estado moderno ao propor (ou impor) essa solução à religião? É possível identificar a política cristã com uma aceitação tranquila dessa ordem de coisas?

A Política Secular: Religião em Cárcere Privado

Tomemos como referência aqui, um filósofo contemporâneo; um francês, (previsivelmente): Christian Delacampagne. Não porque ele seja muito importante no campo (não é), mas porque representa bem o tipo de mentalidade que pretendemos pôr em questão. Podemos nos sentir gratos pela sua formulação sucinta e clara do problema:

“como o religioso, na sua ambição de constituir o ‘laço’ social por excelência (esse é o sentido do latim religio), pode coexistir com o político, cuja ambição é análoga?” [1]

Delacampagne tenta lidar seriamente com o problema, perguntando se o poder político “deve”, e se “pode” se separar do poder religioso. A sua resposta à primeira questão é que ele deve se livrar da tutela religiosa, por uma questão de sobrevivência. Porque, segundo ele, a democracia depende, para funcionar, de uma abordagem pragmática das questões; um partido, por exemplo, deve representar os interesses de certo grupo, não uma verdade absoluta, que deva ser imposta a todos. A política seria um jogo, cujas regras excluem a universalidade, mas a religião, por sua natureza, não pode respeitar essas regras. Ela atua a partir de absolutos, não de considerações meramente pragmáticas. Com efeito,

“Na medida em que considera o pluralismo desejável, como deve fazer se quiser ser democrático, o poder político deve opor-se à simples idéia de ‘partido religioso’, isto é – pois todas as religiões tendem a formar partidos desse gênero – opor-se à religião em geral. ” [2]

Mas pode, a política, separar-se da religião? Sim, desde que ela delimite com clareza as duas esferas. Para o filósofo, temos uma esfera “privada” e uma esfera “pública”, que ele define como “sociedade civil” ou Estado. O caminho, seguido pelo ocidente, foi o de “dar a extensão mais vasta possível à esfera ‘pública’ (incluindo progressivamente nela a maioria das atividades sociais, de maneira a subtraí-las à influência da religião).” [3] O homem seria perfeitamente capaz de atingir a “virtude cívica” necessária para manter todo o espaço público funcionando bem, sem o auxílio da religião, que seria mantida na esfera da consciência individual.

E desde que a religião traz, dentro de si, a tendência de lutar para recuperar a sua “essência”, ou “fundamento”, é imperativo que ela seja mantida em seu devido lugar; do contrário, o fenômeno universal e periódico do fundamentalismo ameaçará a própria base do Estado Moderno, que seria, para Delacampagne, nada menos que “uma verdadeira separação entre o político e o religioso”. [4] Contra essas ameaças, ele enuncia seu “princípio regulador”:

“[...] que a tolerância mais ampla possível seja dada a todas as confissões – desde que nenhuma delas seja autorizada a intrometer-se no funcionamento das atividades sociais.
Em resumo, desde que o Estado continue sendo a única instância capaz de determinar aquilo que, no interior do espaço público, é ou não legítimo. ” [5]

O programa deste filósofo francês é claro como o meio-dia: a repressão da expressão pública da religião, e a garantia de sua manutenção na esfera privada, ou no cárcere privado, para sermos claros também. Mantendo esse “monstro” no cárcere, veremos a liberdade e a política florescerem na esfera pública...

Contra a Idolatria Política

Somente a admissão tácita de certa concepção totalista de Estado pode fazer alguém ler as palavras de Delacampagne sem perceber que há algo muito problemático em seu argumento. O filósofo supõe, em toda a discussão, uma identidade entre “esfera pública” e “Estado”, “sociedade civil” e “Estado”, o que é patentemente falso. O público, e o civil, não é o mesmo que “o político”. Há uma diversidade de esferas além da esfera “privada” e da esfera “política”: há a moralidade, a arte, a economia, a ciência e as relações de sangue. Essas esferas compõem o todo da vida social, mas são anteriores ao Estado, e não devem sua lógica interna ao Estado. A política e o Estado têm responsabilidade por apenas uma dimensão da vida pública, que é a da justiça. A dimensão da arte, por exemplo, é responsabilidade dos artistas e apreciadores da arte, e não do Estado.

Mas, como Delacampagne observou, o Estado Moderno se constituiu por meio de uma expansão na qual reprimiu a influência religiosa “da maioria das atividades sociais”, por meio do controle de cada uma delas, para garantir a sua “laicidade” e eliminar nelas os absolutos religiosos.

É claro que tudo isso já estava embutido na primeira pergunta do autor: quem produz o laço social, por excelência? Pode a religião e a política conviverem, se tem a mesma ambição? Uma pergunta deliciosamente reveladora, ao pôr diante de nós a fantástica pretensão do Estado Moderno de se constituir no laço social por excelência, tragando as formas mais antigas de associação humana em seu divino estômago.

Então há, acima de qualquer dúvida, um conflito entre a política e a religião! Há, na medida em que a política deseja ser, ela mesma, a religião. O Estado Rousseauniano de Delacampagne, totalista e vigilante, cioso de sua secularidade, absoluta e indivisivelmente soberano, não passa de uma divindade concorrente com o Teísmo. A política laica de Delacampagne é mais uma das expressões da religião do humanismo secular, que pretende controlar cientificamente o homem, para garantir a sua liberdade – mesmo que, para tanto, tenha que torná-lo seu escravo.

A responsabilidade atribuída por Delacampagne ao Estado, de determinar sozinho o que é legítimo no espaço público, é absolutamente ridícula. Deverá o Estado decidir qual o método científico legítimo? E o que é arte? E qual a melhor ética sexual? Ou o que é e o que não é prejudicial à família? Ou se, afinal, precisamos de famílias? Pode-se, naturalmente, objetar que o termo “público”, aqui, tem sentido restrito. Talvez, na mente do autor; mas não em seu argumento. De todo modo, o ponto é que o Estado, e a política, tem uma esfera própria, que é a esfera da justiça. Compete ao Estado a justiça pública, e o que for estritamente necessário à realização dessa justiça; e cabe à política a luta por sua representação e implementação adequada.

Essa forma de pensamento estatista me faz lembrar da saga fantástica O Senhor dos Anéis, de Tolkien. A maldição da Terra Média estava na existência do um anel, que concentrava todo o poder. Os teóricos do Estado absoluto parecem não perceber – e isso fica maravilhosamente claro nas especulações de Delacampagne – que a religião, ironicamente, é uma indispensável salvaguarda à liberdade dos indivíduos e das diferentes esferas da sociedade, na medida em que fere Leviatã no próprio coração, desmascarando as pretensões teológicas do Estado de instaurar-se como Deus e Senhor da sociedade.

Uma política cristã existe, assim, tendo obrigações para com Deus e para com o homem. Para com Deus, é seu dever combater a idolatria política. Li, em certa ocasião, a declaração de um grupo de cristãos (do “MEP” – Movimento Evangélico Progressista), para os quais “a visão cristã do Estado é de que o Estado não deve ser cristão”. Um princípio importante, embora excessivamente concordista com a modernidade. Adverte muito bem contra a forma errada de interagir com o Estado, mas nada diz sobre a forma justa. Tornou-se assim politicamente corretíssimo. Rousseau, Delacampagne, Dawkins e a ala anti-religiosa do PT diriam amém (talvez até um “glória a Deus”).

Parodiando essa declaração, no entanto, eu diria que a visão cristã do Estado é, antes de tudo, que o Estado não deve ser Deus. A tarefa teológica da política cristã é a luta contra a idolatria política; é a luta pela reforma do Estado, para que ele se veja redimido de sua fome totalista, e se dedique à sua tarefa divinamente ordenada, respeitando a soberania das outras esferas da sociedade.

Sem dúvida, isso não diz tudo sobre a visão cristã do Estado. A igreja tem uma tarefa teológica, de combater a idolatria política, mas também uma tarefa antropológica, de promover a justiça política; isso significa que uma política cristã precisa, sem dúvida nenhuma, educar o Estado para a justiça. Mas ela não poderá realizar essa tarefa se colocar os carros na frente dos bois: cumprir a segunda tábua da Lei, deixando de lado a primeira. Não: combata-se a idolatria, e então seguir-se-á a justiça.

O Brasil: Um País Politicamente Idólatra

No universo verde-e-amarelo florescem as condições adequadas a um Estado tirânico. Em 2002 ou 2003, eu tive a oportunidade de assistir a uma entrevista sobre a atitude política brasileira, veiculada pela Globo, do famoso antropólogo brasileiro Roberto da Matta, que à época já estava trabalhando como professor na universidade de Notre Dame, em Indiana. Da Matta, talvez sob o impacto da mudança cultural, fez uma breve comparação entre os norte-americanos e os brasileiros. Segundo ele, há uma nítida diferença de postura entre os dois povos; os americanos não constroem suas esperanças sobre o Estado; a sociedade civil é fortíssima, no sentido de que as pessoas se organizam de modo voluntário e quase automático para resolver seus problemas. O brasileiro, em contrapartida, raciocina em termos paternalistas, esperando que um “poder superior” solucione suas dificuldades sem que ele precise agir diretamente. Como exemplo, ele apontou a temática de certa escola de samba (já não me lembro qual), no carnaval daquele ano. O desfile inteiro apresentou as mazelas sociais do Brasil, denunciando a pobreza, a corrupção, etc; ao final, o último carro alegórico trazia uma imagem enorme de Lula, de braços abertos, representando a esperança para o futuro.

E, enquanto aguarda com expectativa a vinda do seu “Cristo Redentor” político, o brasileiro cruza os seus próprios braços. Quando alguém toma uma atitude e organiza algum projeto social, as pessoas dizem – pessoas do governo, empresários e cidadãos comuns – que a sociedade civil está entrando onde o Estado não está cumprindo o seu papel – ora, ninguém duvida de que o Estado Brasileiro não cumpre o seu papel, mas a tarefa de construir uma sociedade justa é da própria sociedade, não do Estado. O Estado é uma ferramenta do povo, não seu Pai.

Eu diria, bem ao contrário, que precisamos agir rápido, tomar a frente e desenvolver projetos de transformação em todas as áreas da vida brasileira, antes que o Estado tome o controle delas! Os cristãos precisam fazer isso, não só porque a soberania de Deus precisa encontrar expressão em cada esfera da vida brasileira, mas também por que somente assim a nossa obrigação política para com Deus será cumprida: a obrigação de desmascarar a idolatria política e combater as pretensões teológicas do Estado.

Alugar os Egípcios?

Noutro dia desses a Norma Braga escreveu um provocativo texto para a Ultimato, intitulado “Porque não sou de Esquerda”. Gerou muitas respostas indignadas. Bem, eu discordo de muita coisa que a Norma costuma dizer em suas defesas do conservadorismo. As razões são compreensíveis para quem já leu algo do que publicamos sobre Cristianismo e Sociedade aqui na Ultimato.

Mas há um ponto em que a Norma está certíssima, e sei que vou exasperar meus amigos socialistas, do tipo que se sente atraído de um jeito ou de outro por ideais Rousseaunianos: sim, o Estado não é o Messias. Sim, o Capitalismo é Idólatra. Não, não podemos alugar os Egípcios para nos livrar dos Assírios. Chamar o Estado para nos salvar do Mercado também é idolatria. Pura e simples idolatria.

É claro que o Estado deve zelar pela justiça pública. É claro que deve intervir quando o sistema econômico se torna injusto. Mas o Estado não deve deter em suas mãos o projeto nacional. Porque o Estado não é o País; o Estado não é a sociedade; sua Soberania é limitada e não vem do povo, mas de Deus. E o mais essencial na visão cristã do Estado é exatamente que o Estado não é Deus, nem deve cobiçar o Seu trono.

Vamos esperar em Jesus Cristo. E que ele nos salve dos Assírios, dos Egípcios e dos israelitas que confiam na cavalaria de Faraó.

Notas:

1. Christian Delacampagne, A Filosofia Política Hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 31.
2. Ibid, p. 34
3. Ibid, p. 35
4. Ibid, p. 39
5. Ibid, p. 41

terça-feira, 29 de junho de 2010

Nesta Quarta: Fé, Esperança e Amor: a Dinâmica da Espiritualidade Cristã

Nesta quarta, dia 30 de junho, acontece a quinta palestra do IV Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, com o tema "FÉ, ESPERANÇA E AMOR: A DINÂMICA DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ". A palestra discutirá o significado das chamadas "virtudes cardeais" ou "teologais" - fé (fides), esperança (spes) e amor (caritas) - e como a vida cristã se organiza em torno delas.

A série "Cristianismo Essencial" aborda os temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; as virtudes teologais (fé, esperança e amor), a idéia de hospitalidade e o Senhorio de Cristo sobre o todo da vida.

O Preletor será Guilherme de Carvalho, obreiro do L'Abri e Pastor da Igreja Esperança.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Claudinha e do Gute, nossos amigos do ministério Gerar.

Próxima Quarta (30/06): Fé, Esperança e Amor

Datas e Horários:
As Palestras serão oferecidas durante os meses de junho e julho, sempre às quartas feiras às 20h.

Local:
Rua Laplace, 36 B. Santa Lúcia

Informações:
Vanessa (31 - 9225-1923) ou Alessandra (31 - 84176211)
Ou por email: labri.brasil@gmail.com

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nesta Quarta: Fé, Esperança e Amor: a Dinâmica da Espiritualidade Cristã

Nesta quarta, dia dia 23 de junho, acontece a Quarta palestra do IV Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, com o tema "FÉ, ESPERANÇA E AMOR: A DINÂMICA DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ". A palestra discutirá o significado das chamadas "virtudes cardeais" ou "teologais" - fé (fides), esperança (spes) e amor (caritas) - e como a vida cristã se organiza em torno delas.

A série "Cristianismo Essencial" aborda os temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; as virtudes teologais (fé, esperança e amor), a idéia de hospitalidade e o Senhorio de Cristo sobre o todo da vida.

O Preletor será Guilherme de Carvalho, obreiro do L'Abri e Pastor da Igreja Esperança.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Claudinha e do Gute, nossos amigos do ministério Gerar.

Próxima Quarta (23/06): Fé, Esperança e Amor

Datas e Horários:
As Palestras serão oferecidas durante o mês de junho, sempre às quartas feiras às 20h.

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Nesta Quarta: os Dez Mandamentos e a Espiritualidade Cristã

Nesta quarta, dia dia 16 de junho, acontece a Terceira palestra do IV Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, com o tema "OS DEZ MANDAMENTOS E A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ". A palestra discutirá o significado dos dez mandamentos no cristianismo, e a relação entre Lei, Graça e autenticidade humana.

A série "Cristianismo Essencial" aborda os temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; as virtudes teologais (fé, esperança e amor), a idéia de hospitalidade e o Senhorio de Cristo sobre o todo da vida.

O Preletor será Guilherme de Carvalho, obreiro do L'Abri e Pastor da Igreja Esperança.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Claudinha e do Gute, nossos amigos do ministério Gerar.

Próxima Quarta (16/06): Os Dez Mandamentos e a Espiritualidade Cristã

Datas e Horários:
As Palestras serão oferecidas durante o mês de junho, sempre às quartas feiras às 20h.

Local:
Rua Laplace, 36 B. Santa Lúcia

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terça-feira, 8 de junho de 2010

Nesta Quarta: O Pai-Nosso e a Espiritualidade Cristã

Nesta quarta, dia dia 09 de junho, acontece a segunda palestra do IV Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, com o tema "O SENTIDO DO PAI-NOSSO PARA A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ". A palestra discutirá não apenas a forma e o sentido da oração, mas também sua relação com a cosmovisão cristã.

A série "Cristianismo Essencial" aborda os temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; as virtudes teologais (fé, esperança e amor), a idéia de hospitalidade e o Senhorio de Cristo sobre o todo da vida.

O Preletor será Guilherme de Carvalho, obreiro do L'Abri e Pastor da Igreja Esperança.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Claudinha e do Gute, nossos amigos do ministério Gerar.

Próxima Quarta (09/06): O Significado do Pai-Nosso para a Espiritualidade Cristã

Datas e Horários:
As Palestras serão oferecidas durante o mês de junho, sempre às quartas feiras às 20h.

Local:
Rua Laplace, 36 B. Santa Lúcia

Informações:
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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cristianismo Essencial: Ciclo de Palestras L'Abri - Junho


Vem aí o
IV Ciclo de Palestras L'Abri-Aket com o tema "Cristianismo Essencial"

A série aborda os temas centrais da fé cristã: o credo apostólico, a espiritualidade e a ética cristã; as virtudes teologais (fé, esperança e amor), a idéia de hospitalidade e o Senhorio de Cristo sobre o todo da vida.

O Preletor será Guilherme de Carvalho, obreiro do L'Abri e Pastor da Igreja Esperança.

O evento é uma promoção do Centro de Referência L'Abri Brasil e da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, com o apoio da Claudinha e do Gute, nossos amigos do ministério Gerar.

Próxima Quarta (02/06): A Mensagem do Credo Apostólico

Datas e Horários:
As Palestras serão oferecidas durante o mês de junho, sempre às quartas feiras às 20h.

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terça-feira, 25 de maio de 2010

A Busca da Felicidade e a Missão da Igreja Hoje

Caros leitores,

a propósito dessa nova discussão sobre a inclusão do "direito à felicidade" na constituição brasileira (veja AQUI), deixo um texto que em breve será publicado em outro lugar. Começamos essa discussão no L'Abri em 2008, e tenho certeza que ela ainda vai longe!

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Há quase duzentos e trinta e cinco anos, em 04 de Julho de 1776, os fundadores dos Estados Unidos da América aprovaram, no Segundo Congresso Continental, a sua declaração de independência. O teor dessa declaração trouxe profundas implicações para a história do mundo até a atualidade:

“Nós sustentamos serem essas Verdades autoevidentes, de que todos os Homens são criados iguais, e que são dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão a Vida, Liberdade, e a Busca da Felicidade – e que para assegurar esses Direitos, Governos são instituídos entre os homens [...]”

E assim, pela primeira vez na história do mundo, a felicidade deixou de ser um luxo, ou uma ilusão cinicamente desprezada, ou um objeto de atenção filosófica e de inquirição pessoal, para se tornar em um projeto sociopolítico. Desde então se tornou matéria de direito natural, de princípio político, de projeto cultural.

Cada um de nós foi de um modo ou outro atingido por essas idéias: elas influenciaram meus conterrâneos, na inconfidência mineira; influenciaram os revolucionários franceses, e assim, indiretamente, aos republicanos brasileiros; e formaram a base de um sistema de cultura no qual estamos metidos até o pescoço. Por isso não apenas americanos, mas brasileiros, europeus, africanos e asiáticos se identificaram com o personagem principal do filme “À Procura da Felicidade”, estrelado por Will Smith. No filme o personagem confessa abertamente que “Thomas Jefferson era um gênio” – Jefferson foi redator da Declaração de Independência.

Quem assistiu ao filme com atenção pode ter sentido um pequeno incômodo. Não era um filme meloso sobre Pai e filho; era um filme sobre política. O diretor contou uma história, e com ela quis dizer: é assim que deve ser, oportunidades iguais, seja para o pobre, seja para o rico; se você lutar de verdade, você pode vencer na vida. Não será fácil, mas você pode chegar lá. Ninguém vai facilitar, nem dar nada de mão beijada; mas as estradas para a felicidade são públicas e democráticas. E no fim do filme ficamos sabendo que o personagem se tornou muito feliz. Pois ele ficou milionário...

De certa forma, era disso mesmo que a declaração de independência falava. Pois suas idéias sobre direitos naturais do homem se baseavam em John Locke, que falava, hora em “busca da felicidade”, hora em “propriedade”. De fato, na Constituição Americana, escrita doze anos depois, a quinta emenda substituiu “busca da felicidade” por “propriedade”, falando assim em “Vida, Liberdade e Propriedade”.

Uma vez livres do rei da Inglaterra os norte-americanos puseram-se a buscar a felicidade, através da propriedade; e quando o sistema econômico se metamorfoseou de capitalismo mercantil para capitalismo industrial, e depois para capitalismo de consumo, o conceito de felicidade também se metamorfoseou.

E assim chegamos ao mundo de hoje: felicidade é consumir: ter poder de compra, para desfrutar das mídias (televisão, internet, celular), para adquirir produtos atualizados... Trabalhar, sim, para poder consumir mais. Poupança não; comunidade não; o que se quer nessa sociedade é ser livre para fazer escolhas, para customizar a totalidade da experiência. Para tanto, o melhor é sermos uma sociedade de indivíduos que buscam narcisicamente a própria satisfação.

Nessa sociedade de indivíduos-consumidores, que Gilles Lipovetsky chamou de sociedade de hiperconsumo, dá-se um paradoxo: na medida em que aumenta o conforto, o prazer, o consumo, a satisfação dos desejos, aumenta igualmente a depressão, a frustração com os relacionamentos; a infelicidade. Que busca é essa, que não chega?

O mercado se alimenta da infelicidade, na medida em que manipula, refina e departamentaliza a insatisfação humana; mas também oferece fantásticos substitutos da religião, promovendo a sua oni- “Presença” (como certo Banco brasileiro) e seu poder de realizar fantasias. E como o prazer exterior é efêmero, o mercado desenvolveu também a possibilidade de renovar permanentemente as experiências de alegria através do aperfeiçoamento dos produtos e do atendimento.

Nesse universo, o Estado é o grande mediador. Ele passa a existir para mediar o relacionamento entre indivíduos narcisistas, que já não sabem viver em comunidade, e não conseguem resolver nada a não ser por meio de leis; e mantém também o mercado sob controle. Torna-se assim uma espécie de “gerenciador do narcisismo”.

Sem dúvida, há muitas pessoas e instituições trabalhando por fins mais nobres, como o fim da fome, da pobreza, da exclusão social, do preconceito. E o governo Brasileiro tem se mostrado solícito no apoio a essas iniciativas, além das suas próprias realizações. Mas precisamos ser honestos o suficiente para reconhecer que o fim disso tudo é quase sempre integrar todas as pessoas em um mesmo sistema cultural doente, que é o sistema da busca narcísica da felicidade.

Podemos nós, cristãos evangélicos brasileiros, falar em felicidade nesse universo? Eu creio que sim.

Ao invés de desenvolver técnicas de manipulação do desejo (como o mercado) ou meramente administrar e mediar entre indivíduos narcísicos (como o Estado), a Igreja deve pastorear o desejo.

Não se trata de negar a tecnologia, nem os seus benefícios, nem de proibir o consumo, nem de reprimir a liberdade individual; mas de mostrar a verdadeira relação dessas coisas com a felicidade. Pastorear o desejo significa ensinar às pessoas a verdadeira felicidade, libertando-as do narcisismo e das falsas promessas da sociedade de hiperconsumo para a fé em Cristo, e ensinando-as a utilizar os benefícios da modernidade com responsabilidade, de forma cristocêntrica.

Eu consideraria esse um dos maiores desafios da Igreja hoje: mostrar que os deuses desse Egito moderno são falsos, para que as pessoas se ponham a caminhar para o “deserto”, rumo à terra prometida. Segundo a minha percepção, anunciar Cristo como o caminho para a felicidade humana é lançar um tremendo desafio ao mundo moderno: pois implica em negar que o Governo e o Mercado sejam capazes de salvar os homens.

Anunciar o ano aceitável do Senhor significa anunciar o tempo de descanso para terra e da libertação dos escravos; a cura para os doentes e a restauração da vista aos cegos. No contexto da sociedade atual, o ano do Senhor implica também em ser livrado da necessidade acelerar o crescimento econômico e competir com a China, e assim conservar a biodiversidade brasileira; em ser curado da doença do desejo insatisfeito para obter o equilíbrio do amor; da cegueira narcísica para ver o outro além de mim mesmo; da escravidão do consumo individualista para encontrar deleite na comunidade e no serviço; da escravidão da carreira para dedicar tempo à família, mesmo sabendo que isso não ajudará em nada a ascensão profissional.

Tudo isso pode parecer difícil, mas não se trata de sacrifício heróico. Trata-se, antes, daquilo que deve acontecer quando vivemos a partir de um novo centro, que reorganiza as nossas prioridades. Trata-se de preferir o maná aos alhos e cebolas de Faraó.

A era hipermoderna e hiperconsumista é o tempo de uma nova missão; não apenas com o propósito de conquistar os não-evangélicos para as nossas igrejas, mas para alcançar todos os brasileiros com a Verdade. É urgente uma missão externa e também interna, que anuncie em Cristo a verdadeira felicidade, e eduque o povo de Deus para viver no mundo com sabedoria, sem cair no erro de tentar arrancar a felicidade das coisas temporais.

Se desejamos promover a felicidade do povo brasileiro, precisamos lutar pela melhora de suas condições de vida; mas precisamos também ensiná-lo sobre o que fazer com suas vidas. Precisamos apresentar uma resposta à moderna procura da felicidade; e a resposta é Jesus Cristo.