segunda-feira, 16 de abril de 2007

Paul Tillich I

Tillich acertadamente distingue entre a fé e as outras funções do sujeito; a fé não se confunde com o conhecimento, nem com a ação, a princípio. Mas ele prossegue: trata-se da condição subjacente, extática, que permeia o agir e o saber, ao torná-los sua expressão; e ela mesma é a apreensão do Incondicional como fundamento; é uma direção para este fundamento.

Parece problemática, no entanto, a sua afirmação de que a fé não é uma função especial ao lado das outras. Ele explicitamente distingue a confiança e a obediência, da fé; alista, de fato, a fiducia entre os "componentes" da fé, mas não deixa clara a sua relação com a cognição e a prática (obediência). Eu penso, no entanto, que a fiducia seria exatamente um elemento, central na fé, que está ao lado do agir e do saber (assensus) como função distinta, no espírito humano. E o que Tillich define como fé - a orientação para o Incondicionado - parece ser algo que, acima de qualquer dúvida, está relacionado à fé, mas que a transcende. Vamos chamar essa orientação, experimentalmente, de religião.

Talvez fosse possível pensar, então, na religião como o direcionamento para o incondicionado. A descrença autonomista (unfaith) seria a areligião - ou, talvez, uma forma de anti-religião - anti no sentido de inversão, de alternativa equivalente - não no sentido de não ser religiosa, mas de ser religiosa de um modo oculto, subreptício. Permaneceríamos, assim, admitindo a presença da fé na anti-religião autônoma e na religião heterônoma. A cultura autônoma vive na fé, portanto, mas na busca de uma negação do incondicional; como diz Tillich, ela não intenciona o incondicional (ou, eu diria, não o faz conscientemente).

Entretanto, já distinguimos entre fé e religião/anti-religião. Se definirmos religião/anti-religião como o direcionamento para o incondicionado, é preciso levantar uma questão: porquê, agora, chamar isso de fé? Não seria melhor seguir a intuição religiosa, e distinguir a fé de outras funções, como a ética e a cognitiva? Afinal de contas, precisamos dar um "nome" para a fiducia, este elemento de confiança incondicional, que também se dirige para o fundamento, mas de um modo diferente do amor, da prática e do pensar. Se a fiducia não for a fé, então, o que é?

Admitimos, é claro, que "religião" para Tillich é mais do que a orientação para o incondicional. Mas ele usa o termo com sentidos variados, conforme o contexto, e é possível mostrar que, em pelo menos alguns deles, o sentido de "religião" e de "fé" se confundem em Tillich. Esse fato pede maior atenção crítica.

Um comentário:

Danilo Sergio Pallar Lemos disse...

Gostei muito de seu artigo, Tillich para mim sempre foi uma fonte de renovação do pensamento teológico.
Acesse meu blog. www.vivendoteologia.blogspot.com