terça-feira, 10 de junho de 2008

Coletivismo Chinês: Tão errado quanto a gente...

É difícil não observar em alguns filmes "chineses" (ao menos, tematizando a China) como "Herói" um fortíssimo traço coletivista. Aquela coisa de considerar o indivíduo bom aquele que se entrega ao país, ao Estado. A individualidade é um detalhe; talvez um obstáculo.

Mas isso não é preconceito não; é a pura verdade. Lendo um interessante capítulo do holandês Sander Griffioen - sobre a teoria das instituições sociais de Dooyeweerd, encontrei uma citação, por ele, de He Zhaowu, um historiador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, de 1991. Diz Zhaowu:

"Enquanto o ponto de partida no Ocidente foi a oposição entre o indivíduo e a comunidade, os chineses tomaram o indivíduo como uma mera parte constituinte de uma comunidade supra-individual, em nome da qual todas as atividades individuais tem sua motivação. Assim, na tradição intelectual da China dificilmente surgiria uma ideologia baseada meramente no indivíduo monádico" (Griffioen, Sander. Dooyeweerd's Theory of Social Institutions. In: Christian Philosophy at the Close of the Twentieth Century, p. 143).

Pois é, isso diz muito sobre o coletivismo Chinês. É um totalitarismo que esmaga a individualidade. Por outro lado, pode nos ajudar a ter mais autocrítica. "Herói" é um insulto às minhas sensibilidades ocidentais. Me sinto melhor assistindo "Mulan" da Disney (sabe, é até legal mesmo. Aquela moça se revoltando contra todo mundo e salvando a China! Pimenta nos olhos dos outros não arde...). Mas é fato que o individualismo ocidental trata indivíduos como mônadas isoladas. Os chineses estão meio certos. Igual a gente. Ou, meio errados...

9 comentários:

Anônimo disse...

Gui, longe de mim parecer implicante, ou simpatizante do capitalismo de estado chinês mas permita-me fazer uma pergunta irônica...

Foram os comunistas que inventaram a comunidade ou os liberais a
individualidade?

Anônimo disse...

Sendo claro sobre aonde quero chegar. A o compromisso do homem com a comunidade pode ter muito mais a ver com a cultura oriental de fidelidade à família e à aldeia que com marxismo ou maoísmo.

André Tavares disse...

Eu assisti Herói no cinema. E foi muito curiosa a reação que tive ao final. O filme demonstra como o cinema oriental está se renovando, e coisas realmente bonitas e interessantes são feitas pelos lados do sol nascente. Mesmo sendo terrivelmente violento, o coreano Old Boy é de dar nó na cabeça... Desde O Tigre e o Dragão os chineses vêm fazendo cinema tecnicamente perfeito.

Herói não é diferente. A fotografia é um espetáculo... mas no final, aquele desfecho é um anti-clímax para qualquer um do lado de cá. Eu lembro de ter levantado da poltrona e gritado: não acredito que paguei R$12,00 para ver propaganda nacionalista chinesa!!!

Mas depois, parando pra pensar um pouco, por que será que sacrifícios pelo bem da comunidade é tão mal visto por nós... sempre lemos como coletivo. Será que o Herói não poderia ter compreendido a posição solitária do Imperador? O que valia mais naquele momento, vingar ou manter o império unido? Mas ainda que não seja para vingar, vale a pena manter o império?

Alguns modernos dirão que o maior direito do cidadão é o de fazer guerra... pode ser...

Guilherme de Carvalho disse...

Christie,

o belo compromisso dos orientais com a comunidade (embora já fraco no reconhecimento do indivíduo) se tornou uma maldição sob a influência do coletivismo europeu. Aquilo que era bom, mas já um pouco desequilibrado, se estragou de vez.

Deixa isso pra lá Christe. Pra que defender o indefensável? :-D

Guilherme de Carvalho disse...

Ô André, :-D

Sabe, se o filme tivesse sido produzido por ocidentais, eu até pensaria assim.

Mas sinceramente, para um filme "chinês"... Com o contexto que eles estão vivendo... Dificilmente poderia ser mais acrítico e conformista.

O equivalente, em Hollywood, seria um (bom) filme de Caubói :-D

Anônimo disse...

Meu último comentário foi recusado ou você não costuma verificar os comentários a ser aprovados com frequência? Daqui a pouco este aqui está igual ao do Júlio Severo onde só palavas laudatórias merecem ver a luz. Bons tempos se passaram.

Guilherme de Carvalho disse...

Christie, de fato não recebi o seu último comentário. Ele não foi recusado.

abr,

Guilherme

Anônimo disse...

Ele dizia, basicamente, que se tento "defender o indefensável" - no caso, é indefensável que o comportamento descrito pelo intelectual chinês é fruto do maoísmo e não de uma cultura chinesa anterior a ele - de saída está abortado o debate. Lamentável.

Guilherme de Carvalho disse...

Não é que o debate esteja abortado de saída; é que o tempo de defender o coletivismo chinês acabou, assim como o tempo de defender o individualismo ocidental.

Guilherme