sábado, 25 de agosto de 2007

Religião e Ciência em Cambridge!


Na terceira semana de Julho eu e Rodolfo viajamos para Cambridge (na foto, capela de um dos Colleges), para um curso de uma semana no Christian Heritage, dirigido por Ranald Macaulay. Ranald fundou o L'Abri da Inglaterra em 1971, e mais tarde se mudou para Cambridge - onde ele se graduou, na década de 60. O Christian Heritage funciona na Round Church (a "Igreja Redonda"), uma capela construída em 1130, pela irmandade do santo sepulcro, imitando o estilo desta igreja em Jerusalém. A Round Church é um dos edifícios mais antigos de Cambridge.

Christian Heritage é um ministério dedicado à recuperação e atualização da herança cristã ocidental e de Cambridge especialmente. Além de manter uma pequena livraria cristã, apresentar vídeos e materiais sobre a influência cristã de Cambridge (via, por exemplo, William Wilbeforce, o maior líder abolicionista inglês), e de coordenar passeios turísticos com este foco na cidade, o centro desenvolve um trabalho de treinamento apologético e juntamente com a organização European Leadership Forum, promove uma rede de acadêmicos e estudantes cristãos em nível de doutorado: The Cambridge Scholars Network.

No curso de teologia de verão deste ano o preletor foi Wayne Grudem. A experiência foi bem interessante, considerando que eu adotei a teologia sistemática de Grudem por diversas vezes nos cursos de teologia sistemática, como professor da FATE BH. E também utilizei bastante seus trabalhos em exegese do novo testamento grego em minha dissertação de mestrado pela Teológica Batista de São Paulo, sobre 1Coríntios 14, em 2003.

Grudem é bastante acessível, e um excelente palestrante. Embora eu e Rodolfo tenhamos divergido de suas idéias sobre economia política e meio ambiente (ele é um defensor do Neo-conservadorismo de David Landes, Huttington, e da escola de Harvard, em geral; e aprova as teses controversas de Bjorn Lomborg), apreciamos muito a sua abordagem geral ao que foi o tema do curso: A Doutrina da Escritura.


Eu e Rodolfo ganhamos uma bolsa completa para o curso, que foi realizado no Sidney-Sussex College, bem no centro histórico. Um lugar muito bonito, com excelente comida e acomodações. E com uma grande história também - um dos ex-alunos do Sydney-Sussex foi ninguém menos que Oliver Cromwell, o herói puritano anti-monarquista.


Ao final da semana Rodolfo retornou para o L'Abri e eu me transferi para o St. Edmund's College, para fazer um outro curso de duas semanas promovido pelo Faraday Institute for Science and Religion, desta vez na Universidade de Cambridge. Para fazer o curso foi preciso concorrer a uma das duas bolsas (cerca de 1000 libras). O outro ganhador foi o Romeno Bogdan, um candidato ao sacerdócio pela igreja ortodoxa romena, excelente pessoa.

O centro é dirigido pelo Dr. Denis Alexander, um fellow do St. Edmunds College e diretor de projetos científicos na área de medicina, Rev. Dr. Rodney Holder, pastor anglicano e cosmologista de Cambridge, e Dr. Bob White, professor de "earth sciences" e fellow da Royal Society. Todos são cristãos evangélicos e cientistas de alto nível. O nível dos professores também - gente de Oxford, Cambridge, Warwick, Wheaton (US), para mencionar algumas universidades.

De fato, os professores são literalmente top minds em seus campos (genética, biologia evolucionária, cosmologia, filosofia e ciências da mente, história da ciência, etc), bem como no diálogo de religião e ciência. Gente como o Dr. Paul Shellard (nas fotos, entre Rodney e Denis), por exemplo, que palestrou sobre o princípio cosmológico antrópico, é coordenador do COSMOS, um supercomputador britânico para estudos cosmológicos e astronômicos, ou John Hedley Brooke, um dos maiores historiadores da ciência na atualidade, ou Roger Trigg, fundador da sociedade britânica de filosofia, ou Ard Louis, diretor de um programa de estudos em sistemas químicos auto-organizatórios em Oxford, ou o Dr. John Polkinghorne, ex-diretor do Queens College em Cambridge, físico matemático (trabalhou com Paul Dirac) e ganhador do prêmio Templeton para o Progresso da Religião.

A propósito, o número de peixes grandes no congresso era absolutamente desproporcional (uns vinte), considerando-se o número de alunos (uns 30). Só haveria uma explicação possível para tal conjunção celeste: o financiamento do John Templeton, que banca o Faraday. De fato foi difícil de acreditar quando tínhamos em uma mesa, por exemplo, simultaneamente (da esquerda para a direita), John Hedley Brooke, Richard Harrison, John Polkinghorne, Ernan McMullin e Rodney Holder - e mais alguns peixes grandes na assistência.


O curso foi bem "transdoxástico" (para não dizer "ecumênico"): a linha geral do Faraday é evangélica, mas há cooperadores católicos e simpatizantes da religião. Vários deles foram muito influenciados por Schaeffer. Denis leu livros de Schaeffer no princípio de sua carreira, e sua esposa até mesmo foi ao L'Abri da Suíça. O Dr. Bryant (na foto) chegou a dizer que os livros de Schaeffer salvaram a sua fé, na juventude.

Aparentemente, as questões mais fundamentais no diálogo religião-ciência - como o sentido religioso do Big Bang - não tocam diretamente os pontos mais superficiais que separam as denominações cristãs (como o batismo), mas afetam as bases das principais tradições teológicas. Apesar disso, várias dessas questões teológicas bem sérias, como a natureza da ação providencial de Deus e sua relação com a física, ou a natureza da liberdade humana, do ponto de vista das ciências da mente, ou o status científico do Design pareciam receber respostas muito semelhantes. Isso pode ser sinal de um acordo teológico, com base no diálogo com a ciência, ou de uma falta de reflexão mais aprofundada do ponto de vista de cada tradição (católica, calvinista, luterana, etc). Eu não poderia dar a resposta neste momento.

Um ponto bem claro foi a rejeição, por quase todos, do assim-chamado "young earth creationism" (criacionismo da terra jovem) bem como do Design inteligente, descrito como "micro-design", o planejamento de cada entidade biológica individual. Ao invés disso, os cientistas defenderam o "macro-design" - a idéia de que Deus na verdade criou um conjunto de condições físicas que levariam necessariamente ao surgimento do homem. O chamado "princípio cosmológico antrópico", apresentado de forma rigorosa pela primeira vez por Frank Tipler e John Barrow (na charge publicada na Nature).

Para reunir a idéia do princípio cosmológico antrópico à teoria da evolução, eles vem recorrendo a teorias de emergência e níveis explanatórios (por exemplo, dizendo que a vida é uma forma de existência que se baseia no nível físico, mas é qualitativamente diferente, demandando uma explicação bio-lógica), estudando sistemas auto-organizatórios, e desenvolvendo aspectos pouco estudados da biologia contemporânea como o fenômeno da convergência evolucionária (quando animais se desenvolvendo em ambientes diverentes adquirem capacidades semelhantes).

Um momento muito interessante foi a apresentação do Dr. Ernest Lucas (na foto), pastor batista, cientista e professor de interpretação bíblica, autor de "Gênesis Hoje" (ABU editora), mostrando a coerência de Gênesis com a teoria da evolução.

De fato, há uma longa tradição de evangélicos, muitos deles calvinistas, que defendiam a coerência entre a doutrina da Criação e a teoria da evolução. Um dos mais famosos foi Benjamin Warfield (na foto), que foi um dos principais formuladores da doutrina da Inerrância Bíblica (vide seu artigo clássico na primeira edição da International Standard Bible Encyclopaedia) e teólogo calvinista da chamada "Old Princeton" (antes da saída do Gresham Machen para fundar o Westminster). Warfield sustentava que a teoria da evolução não é essencialmente contrária ao cristianismo bíblico, e deve ser harmonizada com a doutrina da inerrância bíblica. Outro teólogo calvinista recente, na mesma linha, é o Dr. Alister McGrath, cuja obra"Vida de Calvino" foi publicada em português pela Cultura Cristã.

De um modo geral, eu posso ver sentido no esforço do Faraday em reunir ciência, religião, e biologia evolucionária em especial. Concordei mais do que discordei, mas tenho ainda duas divergências principais: (1) penso que a polêmica de alguns dos professores (como a do biólogo católico Kenneth Miller) contra o DI não leva em consideração o suficiente a viabilidade racional de uma ciência do Design, mesmo que esta seja desenvolvida à parte do naturalismo metodológico tradicional (talvez como uma forma sofisticada de "teologia natural"), e independentemente da investigação biológica tradicional. Mas entendo que isto é em parte uma reação ao radicalismo de parte dos proponentes do Design Inteligente;

(2) não posso aceitar a tentativa de explicar a Queda do homem como a mera presença de impulsos animais egoístas, provenientes de estágios evolucionários anteriores. Essa não é a posição do Faraday propriamente, mas alguns palestrantes defenderam algo próximo disso, como o Dr. Ernan McMullin. A propósito, McMullin, que é um velhinho genial, foi membro de uma comissão do Vaticano que reexaminou a posição católica em relação a Galileu. E ele é colega de Alvin Plantinga no Centro para Filosofia e Religião da Notre Dame University. Quando perguntei o que ele achava da crítica de Alvin Plantinga ao naturalismo metodológico, a sua resposta foi: "it's really bad..." Rsrs... Bem, não concordo com o Dr. McMullin, mas também acho Plantinga pessimista demais a respeito.

Bem, o fato é que tenho razões não somente teológicas, mas filosóficas para acreditar que precisamos de uma Queda histórica do homem para explicar a universalidade do pecado e de Cristo - vide o que Kierkegaard no ensinou a respeito do pecado, por exemplo. A multidão não pode "pecar"; o lesa majestatis, o pecado com "P" maiúsculo, que é uma revolta teológica, só pode ser cometido por um indivíduo. Isso de uma queda "coletiva" e "atemporal" de Adão é uma balela filosófica - se defendida à parte de uma queda individual, naturalmente. O pecado é uma coisa intensamente pessoal e temporal.

Nas críticas à idéia de "Queda", às vezes se ridiculariza a noção de transmissão biológica do pecado original (como em Paul Ricoeur) - mas isso não é problema para os Calvinistas; Calvino já havia rejeitado isso no século XVI, sugerindo no lugar a noção de pacto e união federal. Penso que esta pode ser a melhor linha de defesa da viabilidade racional da crença em uma Queda histórica de um Adão histórico (talvez não necessariamente o primeiro homo sapiens, biologicamente, mas certamente o primeiro homem no estrito [homo religiosus], e o primeiro "representante federal"; de qualquer modo, um personagem histórico). Para lidar com o assunto então seria preciso integrar estudos antropológicos, filosofia moral e, talvez, psicologia. Em outras palavras: este aspecto dos estudos de teologia e ciência depende da entrada das ciências humanas na arena de debates.

Concordo com os criacionistas mais estritos em que a negação da historicidade e da inocência original de Adão e Eva entre parte dos evolucionistas teístas não faz justiça à autoridade bíblica. Precisamos, no entanto, dar um passo além, e explicar "porquê" este ensino bíblico deve ser considerado factual, relacionando-o com as outras doutrinas bíblicas e com os outros campos do conhecimento. A Bíblia diz que Deus fez a chuva, mas isso não é uma explicação filosófica ou científica da chuva. Explicar, em perspectiva cristã, é muito mais do que dizer "A Bíblia diz". O ensino bíblico é a base da explicação, não a explicação em si. O meu desacordo com os evolucionistas-teístas (ou parte deles) é que eles não são capazes de dizer: "A Bíblia diz". E o meu desacordo com os criacionistas (boa parte deles) é que eles só sabem dizer isso. Acho que precisamos de uma forma de criacionismo evolucionário, como o que Alister McGrath vem desenvolvendo.

E caso alguém me pergunte: sim, acho que o Richard Dawkins pode ser um caso de regressão no processo evolucionário; se, de fato, ele é um homo sapiens que perdeu completamente a dimensão religiosa (veja bem: Se...). Bem, seria um interessante exemplo do que a Bïblia diz: "à lama pré-humana tornarás...".

Entre os bons resultados do encontro está a autorização para traduzir os "Faraday Papers" para o português. Os papers tratam de uma ampla gama de assuntos relacionados ao debate de religião e ciência, de forma introdutória; apresentam algumas idéias teologicamente heterodoxas mas, a despeito disso, são importantes por resumir vários aspectos do debate atual. Assim, embora com algumas ressalvas teológicas que, provavelmente, vamos indicar em nosso Blog de Religião e Ciência, pensamos que vale a pena disponibilizar para o público brasileiro.

Em Cambridge tive também a grata oportunidade de visitar a Tyndale House, terceira maior biblioteca de pesquisa bíblica do mundo (atrás apenas da biblioteca da universidade hebraica e da biblioteca do vaticano), mantida pela UCCF (uma ABU inglesa). Vários nomes importantíssimos passaram por Tyndale, que mantém um boletim de científico e acomodações para pesquisadores de diversas partes do mundo. Recentemente o diretor foi o Dr. Bruce Winter, cuja obra em história social do Novo Testamento, em diálogo com a arqueologia contemporânea, tem revolucionado a interpretação do Novo Testamento - sua obra "After Paul Left Corinth" (Eerdmans) é ainda a minha obra de referência para contexto histórico de 1Coríntios.

Na primeira visita encontrei o Rodrigo Franklin, que acabou de concluir o Ph.D. em Literatura Bíblica e Estudos Orientais em Cambridge, estudando a LXX, e que está indo para Goiânia trabalhar com Luciano Pires, do Colloquium. Ambos fizeram mestrado no Covenant (US), onde está o Francis Schaeffer Institute, e vão trabalhar juntos com ensino teológico e apologética. O Franklin já apresentou trabalhos em universidades Alemãs e está indo no fim do ano para Sorbonne, para palestrar sobre a versão septuaginta (LXX) do Antigo Testamento.

Alguns dias depois, em uma segunda visita, o Rodrigo me apresentou o Dr. Jonathan Chaplin, ex-professor do ICS no Canadá, e atual diretor do Kirby Laing Institute for Social Ethics. Dr. Chaplin é cientista político, com pos-doc pela London School of Economics, e aplica a filosofia de Dooyeweerd em seu campo de estudos. Há um grande número de especialistas em ciência política, história política e economia política que vêm aplicando os insights de Dooyeweerd para essas áreas.

Bem, vou ficar por aqui. Há muito o que dizer sobre as palestras e os diferentes especialistas, mas agora o almoço tá na mesa...

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Família Carvalho em L'Abri: Relatório 04



FAMÍLIA CARVALHO

PROJETO PRO-L’ABRI BRASIL

RELATÓRIO 04 –JUNHO-JULHO DE 2007
L’Abri Fellowship
The Manor House
Greatham, Liss
Hants, GU33 6HF

Estamos agora em nosso último mês no L'Abri da Inglaterra!

No dia 11 de Setembro vamos viajar para o L'Abri da Holanda, onde estaremos até 26 de Novembro. Depois voltamos para o Brasil. O próximo relatório será em outras terras, portanto...

Este relatório veio com algum atraso, devido às semanas que estive fora em Cambridge e à ocupação com algumas atividades no princípio do mês, mas vamos cobrir nele apenas o período que vai do último relatório (dia 15 de junho) até o final de julho. Foi um tempo muito rico de experiências e aprendizado, e estamos muito gratos a Deus por isso!

Adaptações (até demais...) e Mudanças

Eu diria que na última quinzena de junho - após pouco mais de três meses na inglaterra - o processo de "adaptação" das meninas se completou. Ou, ao menos, uma fase do processo - missionários mais experientes saberiam explicar melhor...

Seja como for, aquela vontade louca de voltar para o Brasil passou. As meninas não pedem mais para voltar para o Brasil; até começaram a gostar do lugar. O aproveitamento da Ana Elisa na escola foi muito bom, e seu inglês é excelente. Marsh Moyle nos disse outro dia que ela tem um perfeito sotaque do sul da Inglaterra (mais "inglês", ele quis dizer). De fato, ela me corrige o tempo todo. Eu confesso: não consigo dizer "alone" do jeito que ela me pede. Teria que andar com um pregador no nariz para dizer "alone" daquele jeito.

As férias escolares começaram em 19 de julho (e vão até setembro!), e desde então as crianças tem se divertido de montão com os filhos dos workers: Katherine, Hope, Jack, Sam. Se divertiram até demais. Depois de ficar três semanas em Cambridge fazendo cursos, no final de julho, qual não foi a minha surpresa ao descobrir que Helena, a minha filha mais nova, se c-a-s-o-u! Pois é; não somente arrumou um namorado em L'abri; namorou e casou com cerimônia, fotografias e tudo mais. Teve até beijoca, tudo com anuência da mamãe. O felizardo, Sam (esse mesmo, na foto, o coelho), de 4 anos de idade, nem falou a respeito comigo. E a única explicação de Jim Paul, seu Pai (L'abri worker) foi um risinho zombeteiro. Afinal, eu fui o último a saber...

Enquanto eu estava em Cambridge (voltarei ao ponto adiante), Alessandra recebeu a visita do Rosifran, diretor nacional da Missão Amém (WEC International), e cooperador do grupo Pro-Labri no Brasil em Belo Horizonte. Rosifran veio no mesmo dia em que as meninas entraram de férias. Foi muito bom para a Lê - afinal, é difícil encontrar brasileiros por aqui.

Outra coisa que aconteceu enquanto eu estava fora foi a nossa mudança da School House. Na verdade foi uma mudança tripla: os Curry's (Doug e Maggie, com as três filhas) se mudaram do Main Flat para a School House, os Carvalho's da School House para o Back Flat, e os Lindholms do Back Flat para o Main Flat. A Alessandra me disse que o L'Abri inteiro parecia um formigueiro, com os estudantes andando de um lado para o outro, carregando móveis e limpando salas (na foto, a Alessandra com as "malas" prontas). Agora que estou de volta, preciso dizer que se, por um lado, não temos mais aquele jardim gostoso, em frente da casa, por outro lado o novo apartamento é bem mais confortável, e tem sinal de internet quase sempre (o que é muuito bom!). Vai ficar na lembrança o pôr-do-sol, da janela do nosso quarto, na School House...


Trabalho, Arte, e Verdade

O dia 27 de junho foi uma data bastante interessante em L'abri. Foi um dia de muito trabalho; trabalho realmente duro. Uma troupe teatral iria apresentar a peça Twelfth Night, the Shakespeare nos jardins da Manor House (L'abri) à noite (na verdade, até 21:30 ainda é dia por aqui, no verão). Assim a comunidade inteira se reuniu de manhã para dividir o serviço, e trabalhamos o dia inteiro preparando cada parte do jardim: cortando grama, podando árvores, limpando e refazendo cercados, arrancando grama dos caminhos (paths).

Terminamos o serviço por volta das 18 hrs, exaustos! A chuva fina que nos "refrescou" durante todo o dia não cessou, no entanto. Foi preciso organizar tudo para apresentar a peça dentro da Manor House mesmo. Assim, depois de um bom banho e do jantar, nos reunimos na sala/corredor central para assistir à peça (na foto, Ana Elisa e Helena, na fila do gargarejo). Uma maravilha. Os atores não eram cristãos, mas a diretora da troupe e o patrocinador - seu pai - são crentes comprometidos. Um testemunho também...

O interessante foi a combinação de trabalho duro, comunidade e arte. A arte, no fim, veio quase como uma recompensa, ou uma coroação do dia de trabalho. Isto é típico do L'abri: sempre temos momentos para desfrute estético, para experiências com a beleza. E não somente em alguns momentos; até mesmo na decoração das mesas para as refeições, há uma preocupação com enfeites, flores e velinhas. Trata-se de uma tradição que vem da Edith Schaeffer, e que permeia o lugar.

Outro dia o Andrew comentou que a beleza é importante para ajudar os estudantes a reencontrarem Deus. Ele até disse, citando Dostoyevski (acho), que "A Beleza salvará o mundo". O que acontece é muitos vem ao L 'abri cínicos a respeito da existência da beleza, da verdade ou da bondade, como se essas coisas fossem ilusões, e a realidade fosse apenas a mentira e as trevas. E então, experimentando a beleza, eles são forçados a admitir que há algo de essencialmente bom no mundo. E isto é o princípio da aceitação da doutrina cristã: "E viu Deus que era bom...".

É claro que isto não é suficiente para a fé salvadora - preciso dizer isso antes que aqueles reformados mais reformados do que eu se desesperem. Sim, talvez precisemos qualificar severamente Dostoyevski. Mas Andrew expressou nada mais que o pressuposicionalismo Schaefferiano: confrontar a plenitude da experiência que alguém tem, como ser humano, com as suas crenças anti-cristãs, para mostrar que o seu mundo, a realidade de sua experiência, não faz sentido sem Cristo. Não penso, contra os Vantilianos, que isto implique um anknufungspunkt, para usar os termos do debate entre Barth e Brunner.

A não ser que digamos que tudo o que é experimentado de forma integrada em L'abri - trabalho, comunidade, oração, arte, filosofia, família, responsabilidade, comida - é um grande anknufungspunkt, um "ponto de contato" com o incrédulo. Talvez não seja um ponto de contato com a sua crença apóstata, mas certamente o é com a realidade de sua natureza humana, qua imago Dei, que ele suprime e distorce juntamente com o seu conhecimento de Deus. L'abri tenta colocar o incrédulo em contato consigo mesmo, para corrigir a sua visão desfocada da realidade. Naturalmente, isto obrigá-lo-á a enxergar outra coisa - a verdade do evangelho.


Atividades no L'Abri

Os meses de junho e julho em geral foram foram bastante movimentados! Nas duas últimas semanas de junho, além da rotina diária do L'abri, eu me ocupei basicamente com as notas para o projeto da BBE e com a preparação da minha lecture, apresentada no dia 11 de julho.

Como nem todos sabem a respeito, vou explicar melhor o projeto da "BBE" - a Bíblia Brasileira de Estudos. No princípio deste ano participei de uma reunião em São Paulo com outros 30 ou 40 teólogos e acadêmicos, convocada pelo biblista evangélico Luiz Sayão e pela editora Hagnos, para a criação da primeira Bíblia de estudos totalmente nacional - todos os contribuintes seriam cidadãos brasileiros, e as notas e recursos da Bíblia adaptadas à cultura brasileira. Na ocasião eu me comprometi a participar do projeto escrevendo notas para livros do Novo Testamento.

As primeiras 30 notas foram enviadas no princípio de julho e, até o final do mês, eu enviei mais 20, fechando 50 notas, todas em Colossenses. Na preparação, além de recorrer a alguns dos comentários clássicos mais científicos, fui bastante enriquecido pela leitura do comentário de Sylvia Keesmaat e Brian Walsh, Colossians Remixed: Subverting the Empire. Para ver uma resenha por Craig Blomberg (que é um dos mais importantes biblistas evangélicos americanos), clique aqui. Sylvia e Walsh já são bem conhecidos por escreverem sobre cosmovisão cristã a partir de uma perspectiva neocalvinista.

Depois de fechar as notas, me dediquei totalmente à preparação da L'abri lecture, intitulada Reason without Hybris: A Christian Critique to the "Dogma" of the Religious Authonomy of Theoretical Thought (Razão sem Hybris: Uma Crítica Cristã ao "Dogma" da Autonomia Religiosa do Pensamento Teórico). Basicamente, procurei demonstrar que todo pensamento teórico (filosófico, científico, etc) é dependente de pressuposições religiosas, e que a idéia moderna de "neutralidade" meramente esconde essa dependência religiosa. A minha crítica foi baseada principalmente nas idéias Herman Dooyeweerd, Roy Clouser, Francis Schaeffer e Blaise Pascal. Para ler o draft da lecture, clique aqui.

O resultado aparentemente foi muito bom. Acho que nunca o meu inglês esteve tão bom antes - este era um dos meus temores, naturalmente... A resposta geral foi positiva, mas os estudantes mais interessados em filosofia, como o Spencer (concluindo a High School), Nathan (graduando em ciências) ou o coreano Young (começando o doutorado em História Política em Warwick) responderam com muito entusiasmo. O Young até disse que sua visão sobre os brasileiros mudou completamente (bem, não sei se isso é uma boa ou má notícia...), e que agora estudará o pensamento político de Kuyper. Andrew Fellows ficou exultante; até incluiu algumas metáforas e expressões minhas (como "the semantic richness of reality") no livro que ele está escrevendo. Mas quem ganhou mais com a experiência fui eu mesmo.

Durante o período recebemos estudantes em diversas ocasiões para refeições na School House. Foi uma experiência muito interessante; o relacionamento com os estudantes se aprofundava nesses momentos, pelo simples fato de estarmos juntos informalmente. E eles gostavam muito. Uma das estudantes, Mary, que acabara de concluir seu doutorado estudando a obra de Douglas Coupland em New Castle, disse que comeu em nossa casa o melhor Shepherd's Pie da Inglaterra - Shepherd's Pie é um prato tradicional com carne e batatas, muito servido nos pubs ingleses. De fato, a comida da Alessandra se tornou muito popular por aqui. Eu também me tornei popular, por razões distintas - graças às minhas piadas involuntárias. Certa vez, por exemplo, para a minha infelicidade e alegria dos nossos estudantes, eu tentei dar graças a Deus pelo Shepherd's Pee.

Mas eu também tive as minhas alegrias, ora essa. A Marta (L'Abri worker) nos levou no dia 26 de julho para a cidade de Winchester, para assistir a um concerto de Handel, Bach e Vivaldi na enorme catedral de Winchester. Ouvimos o Gloria de Vivaldi na íntegra, no interior de uma catedral de quase 1000 anos, uma das maiores da inglaterra. O som do "gloria in excelsis Deo" ainda ressoa em minha mente... Mas isto foi fora de L'abri; o que nos leva a outro ponto:

Atividades Out L'Abri: Curso com Wayne Grudem em Cambridge

Na terceira semana de Julho eu e Rodolfo viajamos para Cambridge (na foto, capela de um dos Colleges), para um curso de uma semana no Christian Heritage, dirigido por Ranald Macaulay. Ranald fundou o L'Abri da Inglaterra em 1971, e mais tarde se mudou para Cambridge - onde ele se graduou, na década de 60. O Christian Heritage funciona na Round Church (a "Igreja Redonda"), uma capela construída em 1130, pela irmandade do santo sepulcro, imitando o estilo desta igreja em Jerusalém. A Round Church é um dos edifícios mais antigos de Cambridge.

Christian Heritage é um ministério dedicado à recuperação e atualização da herança cristã ocidental e de Cambridge especialmente. Além de manter uma pequena livraria cristã, apresentar vídeos e materiais sobre a influência cristã de Cambridge (via, por exemplo, William Wilbeforce, o maior líder abolicionista inglês), e de coordenar passeios turísticos com este foco na cidade, o centro desenvolve um trabalho de treinamento apologético e juntamente com a organização European Leadership Forum, promove uma rede de acadêmicos e estudantes cristãos em nível de doutorado: The Cambridge Scholars Network.

No curso de teologia de verão deste ano o preletor foi Wayne Grudem. A experiência foi bem interessante, considerando que eu adotei a teologia sistemática de Grudem por diversas vezes nos cursos de teologia sistemática, como professor da FATE BH. E também utilizei bastante seus trabalhos sobre o dom de profecia no NT em minha dissertação de mestrado pela Teológica Batista de São Paulo, sobre 1Coríntios 14, em 2003.

Grudem é bastante acessível, e um excelente palestrante. Embora eu e Rodolfo tenhamos divergido de suas idéias sobre economia política e meio ambiente (ele é um defensor do Neo-conservadorismo de David Landes, Huttington, e da escola de Harvard, em geral; e aprova as teses controversas de Bjorn Lomborg), apreciamos muito a sua abordagem geral ao que foi o tema do curso: A Doutrina da Escritura. Grudem é muito preciso teologicamente, aberto ao diálogo, mas firme no campo da autoridade bíblica. Assim como Grudem, nós também subscrevemos a Declaração de Chicago para a Inerrância Bíblica.

Eu e Rodolfo ganhamos uma bolsa completa para o curso, que foi realizado no Sidney-Sussex College, bem no centro histórico. Um lugar muito bonito, com excelente comida e acomodações. E com uma grande história também - um dos ex-alunos do Sydney-Sussex foi ninguém menos que Oliver Cromwell, o herói puritano anti-monarquista.

Curso no Faraday Institute

Ao final da semana Rodolfo retornou para o L'Abri e eu me transferi para o St. Edmund's College, para fazer um outro curso de duas semanas promovido pelo Faraday Institute for Science and Religion, desta vez na Universidade de Cambridge. Para fazer o curso foi preciso concorrer a uma das duas bolsas (cerca de 1000 libras). O outro ganhador foi o Romeno Bogdan, um candidato ao sacerdócio pela igreja ortodoxa romena, excelente pessoa.

O centro é dirigido pelo Dr. Denis Alexander, um fellow do St. Edmunds College e diretor de projetos científicos na área de medicina, Rev. Dr. Rodney Holder, pastor anglicano e cosmologista de Cambridge, e Dr. Bob White, professor de "earth sciences" e fellow da Royal Society. Todos são cristãos evangélicos e cientistas de alto nível. O nível dos professores também - gente de Oxford, Cambridge, Warwick, Wheaton (US), para mencionar algumas universidades.

De fato, os professores são literalmente top minds em seus campos (genética, biologia evolucionária, cosmologia, filosofia e ciências da mente, história da ciência, etc), bem como no diálogo de religião e ciência. Gente como o Dr. Paul Shellard (nas fotos, entre Rodney e Denis), por exemplo, que palestrou sobre o princípio cosmológico antrópico, é coordenador do COSMOS, um supercomputador britânico para estudos cosmológicos e astronômicos, ou John Hedley Brooke, um dos maiores historiadores da ciência na atualidade, ou Roger Trigg, fundador da sociedade britânica de filosofia, ou Ard Louis, diretor de um programa de estudos em sistemas químicos auto-organizatórios em Oxford, ou o Dr. John Polkinghorne, ex-diretor do Queens College em Cambridge, físico matemático (trabalhou com Paul Dirac) e ganhador do prêmio Templeton para o Progresso da Religião.

A propósito, o número de peixes grandes no congresso era absolutamente desproporcional (uns vinte), considerando-se o número de alunos (uns 30). Só haveria uma explicação possível para tal conjunção celeste: o financiamento do John Templeton, que banca o Faraday. De fato foi difícil de acreditar quando tínhamos em uma mesa, por exemplo, simultaneamente (da esquerda para a direita), John Hedley Brooke, Peter Harrison, John Polkinghorne, Ernan McMullin e Rodney Holder - e mais alguns peixes grandes na assistência.


O curso foi bem "transdoxástico" (para não dizer "ecumênico"): a linha geral do Faraday é evangélica, mas há cooperadores católicos e simpatizantes da religião. Vários deles foram muito influenciados por Schaeffer. Denis leu livros de Schaeffer no princípio de sua carreira, e sua esposa até mesmo foi ao L'Abri da Suíça. O Dr. Bryant (na foto) chegou a dizer que os livros de Schaeffer salvaram a sua fé, na juventude.

Aparentemente, as questões mais fundamentais no diálogo religião-ciência - como o sentido religioso do Big Bang - não tocam diretamente os pontos mais superficiais que separam as denominações cristãs (como o batismo), mas afetam as bases das principais tradições teológicas. Apesar disso, várias dessas questões teológicas bem sérias, como a natureza da ação providencial de Deus e sua relação com a física, ou a natureza da liberdade humana, do ponto de vista das ciências da mente, ou o status científico do Design pareciam receber respostas muito semelhantes. Isso pode ser sinal de um acordo teológico, com base no diálogo com a ciência, ou de uma falta de reflexão mais aprofundada do ponto de vista de cada tradição (católica, calvinista, luterana, etc). Eu não poderia dar a resposta neste momento.

Um ponto bem claro foi a rejeição, por quase todos, do assim-chamado "young earth creationism" (criacionismo da terra jovem) bem como do Design inteligente, descrito como "micro-design", o planejamento de cada entidade biológica individual. Ao invés disso, os cientistas defenderam o "macro-design" - a idéia de que Deus na verdade criou um conjunto de condições físicas que levariam necessariamente ao surgimento do homem. O chamado "princípio cosmológico antrópico", apresentado de forma rigorosa pela primeira vez por Frank Tipler e John Barrow (na charge publicada na Nature).

Para reunir a idéia do princípio cosmológico antrópico à teoria da evolução, eles vem recorrendo a teorias de emergência e níveis explanatórios (por exemplo, dizendo que a vida é uma forma de existência que se baseia no nível físico, mas é qualitativamente diferente, demandando uma explicação bio-lógica), estudando sistemas auto-organizatórios, e desenvolvendo aspectos pouco estudados da biologia contemporânea como o fenômeno da convergência evolucionária (quando animais se desenvolvendo em ambientes diverentes adquirem capacidades semelhantes).

Um momento muito interessante foi a apresentação do Dr. Ernest Lucas (na foto), pastor batista, cientista e professor de interpretação bíblica, autor de "Gênesis Hoje" (ABU editora), mostrando a coerência de Gênesis com a teoria da evolução.

De fato, há uma longa tradição de evangélicos, muitos deles calvinistas, que defendiam a coerência entre a doutrina da Criação e a teoria da evolução. Um dos mais famosos foi Benjamin Warfield (na foto), que foi um dos principais formuladores da doutrina da Inerrância Bíblica (vide seu artigo clássico na primeira edição da International Standard Bible Encyclopaedia) e teólogo calvinista da chamada "Old Princeton" (antes da saída do Gresham Machen para fundar o Westminster). Warfield sustentava que a teoria da evolução não é essencialmente contrária ao cristianismo bíblico, e deve ser harmonizada com a doutrina da inerrância bíblica. Outro teólogo calvinista recente, na mesma linha, é o Dr. Alister McGrath, cuja obra"Vida de Calvino" foi publicada em português pela Cultura Cristã.

De um modo geral, eu posso ver sentido no esforço do Faraday em reunir ciência, religião, e biologia evolucionária em especial. Concordei mais do que discordei, mas tenho ainda duas divergências principais: (1) penso que a polêmica de alguns dos professores (como a do biólogo católico Kenneth Miller) contra o DI não leva em consideração o suficiente a viabilidade racional de uma ciência do Design, mesmo que esta seja desenvolvida à parte do naturalismo metodológico tradicional (talvez como uma forma sofisticada de "teologia natural"), e independentemente da investigação biológica tradicional. Mas entendo que isto é em parte uma reação ao radicalismo de parte dos proponentes do Design Inteligente;

(2) não posso aceitar a tentativa de explicar a Queda do homem como a mera presença de impulsos animais egoístas, provenientes de estágios evolucionários anteriores. Essa não é a posição do Faraday propriamente, mas alguns palestrantes defenderam algo próximo disso, como o Dr. Ernan McMullin. A propósito, McMullin, que é um velhinho genial, foi membro de uma comissão do Vaticano que reexaminou a posição católica em relação a Galileu. E ele é colega de Alvin Plantinga no Centro para Filosofia e Religião da Notre Dame University. Quando perguntei o que ele achava da crítica de Alvin Plantinga ao naturalismo metodológico, a sua resposta foi: "it's really bad..." Rsrs... Bem, não concordo com o Dr. McMullin, mas também acho Plantinga pessimista demais a respeito.

Bem, o fato é que tenho razões não somente teológicas, mas filosóficas para acreditar que precisamos de uma Queda histórica do homem para explicar a universalidade do pecado e de Cristo - vide o que Kierkegaard no ensinou a respeito do pecado, por exemplo. A multidão não pode "pecar"; o lesa majestatis, o pecado com "P" maiúsculo, que é uma revolta teológica, só pode ser cometido por um indivíduo. Isso de uma queda "coletiva" e "atemporal" de Adão é uma balela filosófica - se defendida à parte de uma queda individual, naturalmente. O pecado é uma coisa intensamente pessoal e temporal.

Nas críticas à idéia de "Queda", às vezes se ridiculariza a noção de transmissão biológica do pecado original (como em Paul Ricoeur) - mas isso não é problema para os Calvinistas; Calvino já havia rejeitado isso no século XVI, sugerindo no lugar a noção de pacto e união federal. Penso que esta pode ser a melhor linha de defesa da viabilidade racional da crença em uma Queda histórica de um Adão histórico (talvez não necessariamente o primeiro homo sapiens, biologicamente, mas certamente o primeiro homem no estrito [homo religiosus], e o primeiro "representante federal"; de qualquer modo, um personagem histórico). Para lidar com o assunto então seria preciso integrar estudos antropológicos, filosofia moral e, talvez, psicologia. Em outras palavras: este aspecto dos estudos de teologia e ciência depende da entrada das ciências humanas na arena de debates.

Concordo com os criacionistas mais estritos em que a negação da historicidade e da inocência original de Adão e Eva entre parte dos evolucionistas teístas não faz justiça à autoridade bíblica. Precisamos, no entanto, dar um passo além, e explicar "porquê" este ensino bíblico deve ser considerado factual, relacionando-o com as outras doutrinas bíblicas e com os outros campos do conhecimento. A Bíblia diz que Deus fez a chuva, mas isso não é uma explicação filosófica ou científica da chuva. Explicar, em perspectiva cristã, é muito mais do que dizer "A Bíblia diz". O ensino bíblico é a base da explicação, não a explicação em si. O meu desacordo com os evolucionistas-teístas (ou parte deles) é que eles não são capazes de dizer: "A Bíblia diz". E o meu desacordo com os criacionistas (boa parte deles) é que eles só sabem dizer isso. Acho que precisamos de uma forma de criacionismo evolucionário, como o que Alister McGrath vem desenvolvendo.

E caso alguém me pergunte: sim, acho que o Richard Dawkins pode ser um caso de regressão no processo evolucionário; se, de fato, ele é um homo sapiens que perdeu completamente a dimensão religiosa (veja bem: Se...). Bem, seria um interessante exemplo do que a Bïblia diz: "à lama pré-humana tornarás...".

Entre os bons resultados do encontro está a autorização para traduzir os "Faraday Papers" para o português. Os papers tratam de uma ampla gama de assuntos relacionados ao debate de religião e ciência, de forma introdutória; apresentam algumas idéias teologicamente heterodoxas mas, a despeito disso, são importantes por resumir vários aspectos do debate atual. Assim, embora com algumas ressalvas teológicas que, provavelmente, vamos indicar em nosso Blog de Religião e Ciência, pensamos que vale a pena disponibilizar para o público brasileiro.

Em Cambridge tive também a grata oportunidade de visitar a Tyndale House, terceira maior biblioteca de pesquisa bíblica do mundo (atrás apenas da biblioteca da universidade hebraica e da biblioteca do vaticano), mantida pela UCCF (uma ABU inglesa). Vários nomes importantíssimos passaram por Tyndale, que mantém um boletim de científico e acomodações para pesquisadores de diversas partes do mundo. Recentemente o diretor foi o Dr. Bruce Winter, cuja obra em história social do Novo Testamento, em diálogo com a arqueologia contemporânea, tem revolucionado a interpretação do Novo Testamento - sua obra "After Paul Left Corinth" (Eerdmans) é ainda a minha obra de referência para contexto histórico de 1Coríntios.

Na primeira visita encontrei o Rodrigo Franklin, que acabou de concluir o Ph.D. em Bíblia em Cambridge, estudando a LXX, e que está indo para Goiânia trabalhar com Luciano Pires, do Colloquium. Ambos fizeram mestrado no Covenant (US), onde está o Francis Schaeffer Institute, e vão trabalhar juntos com ensino teológico e apologética. Alguns dias depois, em uma segunda visita, o Rodrigo me apresentou o Dr. Jonathan Chaplin, ex-professor do ICS no Canadá, e atual diretor do Kirby Laing Institute for Social Ethics. Dr. Chaplin é cientista político, com pos-doc pela London School of Economics, e aplica a filosofia de Dooyeweerd em seu campo de estudos.

Agradecimentos, Desafios e Planos






Coisas para agradecer a Deus:

Pelo nosso crescimento no inglês, pela palestra no L'abri, pelas novas acomodações no Back Flat, pelos cursos no Faraday, e pelo sustento da família nas semanas em que eu estive fora. E pela bênção da saúde - não pudemos adquirir o seguro-saúde, mas graças a Deus, até agora ninguém ficou doente.

Pedidos de Oração:

Viagem à Holanda: já está decidido: vamos para o L'Abri da Holanda no dia 11 de setembro, e ficaremos lá até o dia 26 de novembro, quando retornamos ao Brasil. Precisamos ainda levantar 400 dólares para cobrir a troca da data de retorno das passagens.

Pelo visto de entrada na Holanda;

Agradecemos aos irmãos da Igreja Batista do Caiçara, aos nossos mantenedores, e a toda equipe do pro-l’abri “em terra”!

Abraços,

Guilherme, Alessandra, Ana Elisa e Helena Carvalho

Contatos e Apoio:

Para receber mais informações e apoiar o projeto pro-L’Abri Brasil, escreva diretamente para nós, pelo email guilherme.alessandra@gmail.com, ou entre em contato com Vanessa Belmonte, nosso contato no Brasil, pelo email vabelmonte@yahoo.com.br.

Contribuições podem ser feitas diretamente a Vanessa Belmonte, ou através de depósito bancário na conta abaixo:

BANCO REAL
AG: 0036
CONTA: 8723498
TITULAR: Guilherme V. R. Carvalho